Termina hoje “passeio” de Beira-Mar pelo Espírito Santo e Rio para acompanhar júri na capital fluminense. Viagem custou R$ 17,4 mil Rio de Janeiro – O tour do traficante Fernandinho Beira-Mar até o Rio de Janeiro, autorizado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e bancado pelos cofres públicos, provocou polêmica e indignação, mas nenhum resultado prático. Deslocado do presídio de segurança máxima de Catanduvas (PR), com escala em Vila Velha (ES), Beira-Mar deveria assistir a uma audiência de testemunhas de acusação e de defesa em um dos processos que responde por tráfico de drogas, evasão de divisas e lavagem de dinheiro. A audiência, no entanto, foi suspensa por uma manobra de seus advogados, que pediram mais tempo para apresentar as testemunhas de defesa. O traficante ficou cerca de três horas no prédio da Justiça Federal e hoje deve retornar ao presídio federal.

Segundo o governo, a inútil viagem custou R$ 17,4 mil, sendo R$ 12 mil com o uso do avião e R$ 5,4 mil com as diárias dos policiais que o escoltaram até o Rio. A Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef) afirma que só a parte aérea do périplo de Beira-Mar saiu por R$ 31,8 mil, sem contar as diárias. Desde que foi preso em 2001, na Colômbia, Beira-Mar já fez 14 viagens que geraram gastos, só com a parte aérea, R$ 195 mil. O traficante poderia ter participado da audiência por videoconferência, dentro do próprio presídio de Catanduvas, que dispõe do equipamento, mas o STF o autorizou a comparecer pessoalmente às sessões. O gasto pode ser repetido. A juíza da 5ª Vara Criminal Federal, Simone Schreiber, disse ontem que o traficante poderá voltar ao Rio para ouvir as testemunhas de defesa.

Um esquema de segurança cinematográfico foi montado para sua viagem, o que provocou protestos de autoridades e estudiosos da violência, como o ex-secretário nacional antidrogas, o juiz aposentado Walter Mayerovitch, para quem o ex-inimigo público número um do Rio está fazendo turismo com o dinheiro da União. “O Beira-Mar está fazendo turismo judiciário”, explica Mayerovitch, presidente do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais Giovanni Falcone.

Para o delegado Milton Olivier, chefe da Delegacia de Repressão a Ações Criminosas Organizadas (Draco) no Rio, o Brasil precisa ter uma legislação mais moderna com presos perigosos. “Nossa legislação permite coisas esdrúxulas, como o contato corriqueiro com o advogado, visitas íntimas para presos perigosos e essa loucura do preso ser conduzido para lá e pra cá com os policiais virando babá”, comparou.

A passagem de Beira-Mar pelo Espírito Santo, que teria a finalidade de dar carona a um outro preso que se deslocou para o Rio, provocou uma crise com as autoridades capixabas. O governador Paulo Hartung (PMDB) e o próprio superintendente da PF no estado, Geraldo Antônio Guimarães, criticaram a medida.

Beira-Mar deixou a sede da PF no Espírito Santo por volta das 9h30. Sob forte escolta, desembarcou, às 11h30, no Rio. Escoltado por 25 agentes em cinco carros, seguiu em um furgão para a sede da Justiça Federal. Seis homens da tropa de elite federal ficaram grudados no bandido o tempo todo. O prédio da Justiça Federal foi isolado. A previsão era de que ele passasse a noite no Rio, em local não divulgado.

Ricardo Miranda

Da equipe do Correio