Transação foi feita com documentos de parentes de Levy Luiz da Silva Filho, licenciado dos Correios 

 A Polícia Federal apontou as pessoas que atuaram como laranjas para levantar dinheiro para petistas pagarem pelo dossiê Vedoin. Trata-se de uma família da Baixada Fluminense, com ramificações em Ouro Preto (MG). Segundo fontes policiais, uma das envolvidas admitiu ontem ter recebido comissão para emprestar nomes e dados pessoais para formalizar contratos fictícios de câmbio da corretora Vicatur, de Nova Iguaçu.

Com esse esquema foram levantados dólares que compuseram os US$ 248,8 mil apreendidos com dois emissários petistas, em São Paulo, em setembro.

A intenção era pagar à família Vedoin, que chefiava a máfia dos sanguessugas, por acusações contra candidatos tucanos.

O delegado federal Diógenes Curado, de Cuiabá, ontem esteve na Baixada Fluminense, onde ouviu integrantes da família de Levy Luiz da Silva Filho, funcionário licenciado dos Correios que vive num bairro pobre de Magé.

O Estado acompanhou a chegada do delegado à casa da família.

Curado confirmou que os documentos de integrantes dessa família foram usados por quem sacou a maior parte dos dólares na Vicatur. No entanto, não quis dizer quantos foram envolvidos no caso. Os nomes de pelo menos sete integrantes da família constam da lista de suspeitos obtida pela reportagem com pessoas ligadas à investigação.

Ontem, o delegado ouviu Levy por uma hora e meia em sua casa. Na saída, afirmou apenas que, provavelmente, os familiares não sabiam que seus nomes estavam sendo utilizados pelos verdadeiros sacadores. Ele também não quis informar como os CPFs da família foram parar na casa de câmbio. Uma fonte da PF disse que Sirley da Silva Chaves, uma das sócias da Vicatur, tem ligação com a família, mas os parentes negam conhecê-la.

Na lista dos laranjas estão seis familiares de Levy Filho: os pais dele, Levy Luiz da Silva e Demilde Gomes da Silva, a filha Viviane Gomes da Silva, a prima Edicéa Gomes Vieira e os cunhados Marilcinéia Gomes e Uheliton Marcelo Gomes. Viviane, que mora em Ouro Preto, foi ouvida por outra equipe da PF ontem.

O Estado havia localizado a família na terça-feira. A mulher de Levy, a cabeleireira Lucinéia, que não aparece na lista de laranjas, contou que ele é funcionário dos Correios e está há muitos meses licenciado por conta de um acidente, recebendo pelo INSS. “Quem dera meu marido pudesse fazer um saque desses! Nós nunca vimos dólares na vida. Se pudéssemos sacar dólares, você acha que moraríamos aqui?”, argumentou.

Mais tarde, Levy Filho aceitou conversar por telefone e repetiu: “Não comprei e não sei nada sobre dólares.” Disse que não sabe como os documentos da família podem ter chegado à Vicatur e não se lembra de ter dado informações a ninguém. Afirmou ainda que não tem contato com políticos e nunca esteve na Vicatur ou com representantes dela. “Só vimos esse caso na televisão.”QUENTINHAS

Marilcinéia e Uheliton, irmãos de Lucinéia, moram em frente à casa dela, onde funciona também seu salão de beleza. Lucinéia disse que a irmã não estava em casa, mas informou que ela é cozinheira e tem uma empresa de quentinhas com outro cunhado. “Coitada da minha irmã, ela nunca comprou dólares nem para viajar. A única viagem que faz é para o Espírito Santo.” Lucinéia pediu que Uheliton não fosse abordado, por ter problemas neurológicos.

Ela também não consegue se lembrar de familiar que tenha emprestado documentos. “Nenhum de nós comprou dólar.” ?

Alexandre Rodrigues

O Estado de S. Paulo

COLABORARAM CLARISSA THOMÉ, FABIANA CIMIERI E MARCELO AULER