Quase dois anos depois de denunciar o mensalão, presidente do PTB é acusado de formação de quadrilha. Em resposta, atacou o governo e o MP

A Polícia Federal indiciou ontem, por formação de quadrilha, o presidente nacional do PTB, Roberto Jefferson, no inquérito que apura irregularidades em contratos com fornecedores da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT). A PF concluiu que o petebista loteou cargos em setores da estatal para desviar recursos para o partido. Na apuração, iniciada há quase dois anos e prevista para terminar até o fim do mês, outras sete pessoas foram indiciadas, entre elas o ex-diretor administrativo dos Correios Antônio Osório Batista e Marcus Vinícius Vasconcelos, genro de Jefferson.

A acusação contra o presidente do PTB se baseou em depoimentos dele à CPI dos Correios e do ex-chefe do Departamento de Compras da estatal Maurício Marinho, flagrado no início de 2005 embolsando R$ 3 mil de propina para beneficiar suposto empresário interessado em negócios com a ECT. Também foram reunidas pela polícia declarações de donos de três fornecedoras dos Correios. Eles afirmaram ter produzido material de campanha para o PTB a pedido de Marinho.

Até mesmo o que o ex-deputado escreveu no livro Nervos de Aço, lançado em setembro, foi usado pelos policiais federais para reforçar a convicção no indiciamento. Num trecho da publicação, o autor afirmou que “voltando ao caso dos Correios, é evidente que as nomeações feitas pelo PTB se prendiam, sim, a uma estratégia de captação de recursos eleitorais. Nunca neguei isso. Só que absolutamente nada foi captado para o PTB. Porque a turma do PT corria na frente”.

Defesa

Ao deixar a sede da PF, Jefferson se declarou “vítima do marketing policial” do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e garantiu que enfrentará a PF e o Ministério Público. “É uma coisa subjetiva, não há fato concreto. É um indiciamento anunciado na imprensa”, disse. “A PF é a polícia política do governo Lula. E não é só contra adversários de outro partido, até dentro do partido, quando alguém incomoda, indicia-se, põe o cara na quarentena para depois tirar um indiciamento”, afirmou o ex-deputado.

Ele também dirigiu ataques ao procurador da República Bruno Acioli, um dos responsáveis pelo caso no Ministério Público. “Ele é um bobo, um moleque de recados do PT”, disse. E buscou explicação para a suposta perseguição: “Desmascarei o PT, rasguei a roupa do PT”. Em nota, o procurador lamentou a atitude do ex-deputado cassado, lembrou que o MP é uma instituição apartidária e que, caso sejam comprovadas as irregularidades, o Ministério Público buscará punir os responsáveis. A assessoria da PF informou que o indiciamento foi técnico e baseado em provas “robustas”.

Jefferson denunciou o mensalão — suposta mesada paga a parlamentares da base aliada — logo após a divulgação da fita de vídeo com o flagrante da propina recebida por Maurício Marinho. Ontem, disse que o esquema perdura na Esplanada. “Quando um ministro é chamado de herói porque ganha R$ 8 mil, ele está lá para quê? Para fazer recursos para o partido dele”, afirmou. Ele disse que é contra a participação do PTB no governo Lula, mas respeita quem quiser aderir.

DECISÃO EM QUATRO MESES

O Supremo Tribunal Federal (STF) pode decidir no final deste semestre se acolhe ou não a denúncia do procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, contra os 40 suspeitos de participação no inquérito do mensalão. A informação foi dada ontem pelo ministro Joaquim Barbosa, que é o relator do caso na Corte Suprema. Se o STF aceitar a denúncia, abre-se um processo criminal. Só assim se passará para a fase de interrogatórios, depoimentos de testemunhas e julgamento. 

Marcelo Rocha

Correio Braziliense

22/3/2007