Chamar o estresse de “mal do século” já se tornou algo clichê, tamanha a quantidade de pessoas afetadas pelo problema nos dias atuais. Na Polícia Federal, não é diferente. Prova disso é que, dia após dia, o SinpecPF recebe inúmeros relatos de servidores administrativos alegando não suportar mais a sobrecarga de trabalho na instituição e os efeitos decorrentes da mesma.

Diante de um cenário tão preocupante, trabalhos como o relato de experiência “Intervenção Psicossocial em Ações de Saúde nas Unidades da PF”, de autoria da assistente social Gegliola Campos e da psicóloga Wênia Santos, ganham ainda mais relevo. O estudo é fruto da aplicação de questionários e da interação direta com 195 servidores e colaboradores da PF divididos entre os estados do Amapá, de Goiás, do Pará e de Pernambuco. O objetivo das pesquisadoras foi conhecer a realidade dos servidores do órgão, identificando processos de adoecimento e detectando vivências de assédio moral e outros incidentes críticos, bem como as percepções acerca do ambiente de trabalho.

Graças ao estudo, um projeto piloto na Polícia Federal, as autoras puderam trabalhar estratégias interdisciplinares de intervenção psicossocial em ações de saúde, mesclando conhecimentos dos campos da psicologia e do serviço social. A atuação conjunta ajudou não apenas a aferir as condições de saúde e de trabalho no órgão, proporcionando também orientações sobre comportamentos saudáveis e oportunidades de intervir em casos de adoecimento mental já instalados.

Entre os dados levantados pelas pesquisadoras, causam apreensão o alto índice de servidores que relataram histórico de depressão ou ideação (levantar a hipótese) ao suicídio (34%), bem como o número de colegas que relataram ter vivenciado incidentes críticos (48%). Entre esses incidentes, figuram problemas como acidentes de trabalho, suicídios de colegas e assédio moral.

Na avaliação das pesquisadoras, apenas a partir de uma visão inter e transdisciplinar entre as diversas áreas de saúde é que poderão ser desenvolvidas ações que garantam a atenção à saúde e à qualidade de vida que o profissional de segurança pública anseia. Para que isso seja concretizado na Polícia Federal, a dupla recomenda o reforço do efetivo da área biopsicossocial. Embora o “Programa de Atenção Biopsicossocial”, política institucional de âmbito nacional voltada à promoção da saúde dos servidores, tenha sido instituído em há quase dez anos pela IN nº 02/2009, até hoje a principal recomendação — a alocação de equipes voltadas para o acompanhamento em saúde mental e psicossocial, compostas por psicólogos, assistentes sociais, enfermeiros e psiquiatras, em todas as unidades do DPF — não saiu do papel.

Recentemente a pesquisa de Gegliola e Wênia recebeu o reconhecimento do Instituto Superior de Ciências Policiais (ISCP) da Polícia Militar do DF, que selecionou o estudo para o “1° Congresso Internacional de Ciências Policiais”, realizado em Brasília, no início de novembro. O SinpecPF parabeniza as colegas pelo sucesso e recomenda à Direção da Polícia Federal dar bastante atenção aos resultados da pesquisa, que merecem servir como ponto de partida para a construção de uma política preventiva na área de saúde.