A esperança de que o atual governo teria um olhar diferenciado para a Polícia Federal começou a cair por terra. Na primeira oportunidade de colocar em prática as promessas de fortalecimento institucional e de valorização dos quadros do órgão — discurso insistentemente repetido durante a campanha eleitoral —, o Planalto recuou e disse não à proposta de correção da amplitude salarial da carreira administrativa.

Para justificar a negativa, o Ministério da Economia recorreu ao manjado subterfúgio da “situação orçamentária desfavorável”. A verdade é que tal escusa não se aplica ao caso. Talvez a equipe econômica não tenha lido com a devida atenção a proposta enviada pela PF. Se o tivesse feito, perceberia que o órgão declarou categoricamente já dispor dos recursos financeiros necessários para a correção, não havendo, portanto, necessidade de ampliar o orçamento da instituição para a correção.

Também não é segredo que a PF sofre com a falta de servidores administrativos, carência que obriga a instituição a desviar policiais federais do combate à corrupção e ao crime organizado para colocá-los em atividades de fiscalização e controle (ou mesmo em tarefas burocráticas). Como um policial ganha até cinco vezes mais que um administrativo, a prática vai na contramão do discurso de austeridade defendido pelo governo.

“Valorizar o servidor administrativo é muito mais eficiente e econômico. É algo lógico!”, protesta o presidente do SinpecPF, João Luis Rodrigues Nunes. Para o sindicalista, o governo rasga o dinheiro do contribuinte ao não promover a correção da amplitude, uma vez que a medida ajudaria a estancar o êxodo de profissionais administrativos. “A conta é simples: menos administrativos significa mais desvios de função. Ou seja: recursos jogados fora”, calcula.

João Luis não é o único que pensa dessa forma: declarações parecidas em defesa do fortalecimento do quadro administrativo foram dadas pelo deputado Eduardo Bolsonaro.

Diante da resposta do Ministério da Economia, o SinpecPF convocará Assembleia Geral Extraordinária para discutir com a categoria uma resposta categórica à insensibilidade do governo federal.

Imagem: Marcelo Camargo/Agência Brasil