O Governo Federal confirmou para esta quinta-feira (3) o envio ao Congresso Nacional da Proposta de Emenda à Constituição que dará início à Reforma Administrativa do serviço público. O tema vinha sendo ventilado há meses nos corredores do Planalto, mas apenas na manhã de hoje o Ministério da Economia detalhou as linhas gerais do projeto.

A ideia do Governo Bolsonaro é realizar a reforma em três etapas. A PEC encaminhada hoje ao Congresso é apenas a primeira delas. Calcada em normas gerais, a medida teria, em tese, pouco impacto diretos entre os atuais servidores, mas suas lacunas representam um verdadeiro cheque-em-branco para regulamentações futuras, cujo conteúdo segue sendo um mistério para o funcionalismo.

O que muda com a PEC? — De acordo com o Ministério da Economia, os atuais servidores conservarão a estabilidade e o padrão remuneratório atual. As mudanças mais sensíveis seriam destinadas aos futuros servidores, que não mais estariam sujeitos a um regime jurídico único.

O novo modelo defendido pelo governo prevê dois regimes distintos. O primeiro deles seria voltado às carreiras consideradas típicas de estado, que conservariam a estabilidade após três anos e teriam dedicação exclusiva. O segundo, sem estabilidade, seria destinado a cargos operacionais, com contratação por prazo indeterminado, que poderiam acumular cargos e atuar na iniciativa privada mais facilmente. Em ambos os casos, a seleção continuaria sendo por concurso público.

Haveria ainda outros dois tipos de ingresso, por seleção simplificada. O primeiro prevê contratações por tempo determinado, para cumprimento de demandas específicas. O segundo, contratações para cargos de liderança e assessoramento, que substituiriam os atuais cargos comissionados.

A PEC também estabelece mudanças para o estágio probatório. Para as carreiras típicas, a estabilidade continuaria sendo atingida após três anos de efetivo exercício. Contudo, os dois primeiros anos constituiriam um “vínculo de experiência”, que seria etapa do próprio concurso. Nele, os candidatos aprovados competiriam entre si para entregar o melhor desempenho possível. Somente os mais bem colocados nessa etapa se tornariam servidores. Mesmo sem estabilidade, os servidores contratados por prazo indeterminado também estariam sujeitos à etapa de experiência, só que por apenas um ano.

Vale ressaltar que, de acordo com o secretário especial adjunto de Desburocratização, Gestão e Governo Digital do Ministério da Economia, Gleisson Rubin, os servidores contratados por prazo indeterminado não terão vínculo regido pela CLT.

Outras mudanças previstas na PEC visam facilitar a quebra de vínculo entre Estado e servidores — inclusive os atuais. A ideia é que os servidores possam perder o cargo quando condenados em sentença judicial penal proferida por órgão colegiado (hoje a perda só ocorre após o trânsito em julgado) e por insuficiência de desempenho, tema que seria regulamentado por Lei Ordinária (atualmente, a Constituição prevê que a matéria seja tratada em Lei Complementar, de aprovação mais difícil no Congresso).

A PEC também pretende extinguir uma série de direitos, tais como: licença-prêmio; promoção por tempo de serviço; adicional por tempo de serviço (anuênios); entre outros.

Lacunas perigosas — Grande parte das mudanças previstas pela PEC teriam eficácia limitada, dependendo de regulamentação posterior em outras leis e decretos. É o caso da delimitação de quais são de fato as carreiras típicas de estado, que seriam apontadas nas fases posteriores de negociação política. Segundo o Ministério da Economia adiantou hoje, essa definição seria feita de acordo com as atribuições desempenhadas por cada cargo.

Outra lacuna temerária reside nos critérios para aferição do desempenho dos servidores, tanto para demissão quanto para efetivação após o concurso público. Como garantir que as avaliações não recaiam sob critérios subjetivos, ferindo-se o princípio da impessoalidade?

Opinião do sindicato — Para o SinpecPF, as mudanças propostas geram muitas incertezas, podendo enfraquecer o já combalido modelo atual. “Entendemos que seria muito mais efetivo combater os privilégios do topo da pirâmide e valorizar aqueles que carregam o piano, caso dos servidores administrativos da PF”, pontua o presidente João Luis Rodrigues Nunes.

Por conta disso, o sindicato atuará em duas frentes: 1) conjuntamente às demais entidades do serviço público no sentido de rechaçar as mudanças; 2) individualmente, no sentido de fazer com que a categoria seja reconhecida como típica de estado por exercer atribuições de fiscalização e de controle.

Foto: Sérgio Lima/Poder360