Gravações de telefonemas, feitas pela Polícia Federal em Rondônia, revelam que não passou de farsa uma votação feita pela Assembléia Legislativa do Estado, em outubro do ano passado, para decidir sobre o destino de três deputados acusados de cobrar propina do governador Ivo Cassol (PPS).

O escândalo havia sido revelado pelo próprio governador, meses antes. Segundo ele, dez deputados queriam cobrar-lhe uma propina de R$ 50 mil por mês, em troca de apoio para os projetos de seu governo.

As novas gravações da PF, exibidas ontem pelo programa Fantástico, da Rede Globo, indicam como o esquema foi previamente combinado. Um dos telefonemas capturados ocorreu entre o deputados Amarildo Almeida (PDT) e um amigo de nome Luís. Amarildo fala da situação dele, do deputado Ronilton Capixaba (PL) e da deputada Ellen Ruth (PP) – justamente os três cuja cassação a Assembléia deveria votar.

“Como está a coisa?”, pergunta o amigo.

“Fui eu, o Ronilton e a Ellen pra guilhotina…”, diz Amarildo. E acrescenta: “Mas eu já tinha ciência disso. Na semana que vem se vota (o pedido de cassação), e define já.” O amigo em seguida lhe pergunta:

“Mas estava acertado isso aí, ou foi abrupto?” O deputado confirma: “Tava, tava.”

Na conversa seguinte, o amigo pergunta: “O plenário, vai fazer o quê?” E Amarildo: “Agora o plenário tem que ter 16 votos pra cassar eu. (sic) É aquele esquema.” O amigo lhe pergunta se o plenário tem os votos para cassar. Amarildo admite, seguro de si: “Não tem. De jeito nenhum.”

Acerto – Para explicar porque faltariam os votos para puni-los com a perda do mandato, o deputado pedetista revela que os deputados (a serem levados a julgamento) foram escolhidos a dedo.

“Era um acerto que tinha, já. Ficou entre eu, a Ellen e o João da Muleta (PMDB). Mas os caras tiveram dó do João da Muleta. A minha defesa dava fazer com mais tranqüilidade.”

Na conversa, o deputado diz ainda que o dia da votação seria escolhido para a absolvição ficar mais fácil – tudo com ajuda do presidente da Assembléia, Carlão de Oliveira, do PSL.

“Quando for semana que vem, o Carlão vai, na terça ou na quarta, vai ver o dia que tiver favorável. E se estiver beleza, ele “vap!”, coloca (em votação) e limpa na hora, porque ele pode colocar a hora que quiser”, prossegue Amarildo ao telefone.

Outro momento é mostrado pelo Fantástico, no qual Amarildo comemora sua absolvição com o amigo: “Absolvido, Amarildo?”, é a pergunta do outro lado. E o deputado, feliz: “Absolvido, com 17 votos, praticamente 15 votos e 2 abstenções!”

O escândalo tornou-se público em maio do ano passado, quando o governador Ivo Cassol (PPS) denunciou os deputados da Assembléia por tentarem cobrar pelo apoio político.

Prisões – No último dia 4, porém, a Polícia Federal revelou os resultados da “Operação Dominó”, que dava conta de um escândalo bem mais grave: o esquema envolveu 23 dos 24 deputados de Rondônia – todos foram presos. Eles mantinham folhas de pagamento paralelas e utilizavam muitos funcionários públicos como laranjas, para receber em nome deles. O total de dinheiro desviado chegou a R$ 70 milhões. Um dos membros do esquema era Sebastião Chaves, presidente do Tribunal de Justiça de Rondônia. O outro, Carlos Magno Ramos, ex-chefe da Casa Civil do governador Cassol e que era candidato a vice em sua chapa – ele busca a reeleição em outubro.

Agência Estado