A nova ministra do Supremo Tribunal Federal (STF), Carmen Lúcia Antunes Rocha, quer visitar cidades pobres do interior do país para aproximar a população dos seus direitos. Nomeada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Carmen Lúcia mostrou, ontem, em conversa informal com jornalistas, o seu perfil de “ministra do social”. Ela elegeu dois temas importantes para o Supremo: acabar com a exclusão da maior parte da população ao Judiciário e tornar efetivos os direitos previstos na Constituição.

Carmen Lúcia criticou o excessivo formalismo jurídico. Admitiu que a Justiça ainda está muito distante do cidadão. “Toda a vez que eu der um voto, vou pensar: a dona Joana, de Espinosa, entende?”, disse, citando a cidade no norte de Minas Gerais, onde nasceu.

Colaboradora de ações assistenciais num orfanato em Montes Claros, perto de Espinosa, a futura ministra defendeu o Fome Zero. “Não se ensina a nadar quem está se afogando”, afirmou, rebatendo as críticas de que o programa é meramente assistencialista.

A ministra também foi bastante cautelosa ao responder sobre o mensalão. “A crise política é uma oportunidade de repensar o país”, disse. Em seguida, afirmou que não se sente pressionada para julgar a denúncia feita pelo procurador-geral da república, Antonio Fernando de Souza, contra 40 envolvidos no esquema de arrecadação ilegal de dinheiro para políticos. Os pedidos de pressa não irão funcionar com a futura ministra. “O direito tem o seu tempo”, disse.

“Direito é razão, e não emoção. O povo pede emoção, mas o Direito tem os seus princípios”, afirmou. Diante da insistência de um jornalista sobre a necessidade de o caso ser julgado rapidamente, ela citou Jesus Cristo: “O julgamento mais célebre da humanidade foi entregue ao povo, à emoção.”

A ministra explicou como tornar efetivos os direitos da população carente. Segundo ela, o direito constitucional vive uma nova fase no Brasil: “O que se quer é que a Constituição chegue a cada pessoa”, disse.

Juliano Basile / Valor Econômico