Leis existem para serem cumpridas. É para isso que foram criadas. Nesses dias em que tantos cobram mais qualidade para o gasto público, é preciso voltar os olhos para o Congresso Nacional e para a eficiência das leis que ele produz. Para que gastar bilhões de reais com o Legislativo quando boa parte da legislação elaborada por ele não produz efeitos concretos?

Exemplo prático disso é a Lei 10.682, norma que criou o Plano Especial de Cargos da Polícia Federal. Aprovada pelo Congresso Nacional em maio de 2003 e sancionada pelo então Presidente Lula, é uma dessas leis que habitam uma espécie de “limbo legislativo”, fazendo companhia a tantas outras normas que, na prática, nunca entram em vigor.

Um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete, oito, nove, dez, onze, doze, treze, quatorze, quinze, dezesseis anos!!! É o tempo decorrido desde a promulgação da Lei 10.682/03, que, em seu Art. 11 determinava que o Poder Executivo enviasse ao Congresso Nacional, em até 180 dias, “projeto de lei dispondo sobre a organização e o funcionamento da Polícia Federal, de maneira a garantir a eficácia de suas atividades e o atendimento do disposto no § 7º do Art. 144 da Constituição.”

Como é típico nesta terra brasilis, o envio da proposta acabou atrasando. Apenas em 2009 o Executivo cumpriu com o mandamento legal, enviando um projeto de Lei Orgânica ao Congresso Nacional, texto esse que, após tramitar durante um ano, acabou não sendo aprovado pelos parlamentares. De lá para cá, muitas promessas de encaminhamento de um novo texto, nenhuma delas devidamente cumprida.

Com isso, a eficácia da Lei 10.682 segue limitada e a PF continua carente de uma norma que organize suas atividades e que garanta sua eficácia, tema esse de vital interesse para o PECPF, haja vista a participação, até hoje não regulamentada, de seus servidores nas atividades de fiscalização e de controle desempenhadas pelo órgão.

Essa esdrúxula situação estimula alguns questionamentos: quantos recursos foram consumidos para criação da norma que segue sem efeitos práticos? Quantas horas de trabalho foram desperdiçadas em propostas sem eficácia? É possível quantificar o prejuízo que a PF sofreu nesses dezesseis anos sem regulamentação de suas atividades? E, a pergunta mais importante: quando isso vai mudar?

É um verdadeiro descaso com a categoria e com os cidadãos. É prejuízo econômico e moral. Como dizia o filósofo Michel de Montaigne: “Apenas pelas palavras o ser humano alcança à compreensão mútua. Por isso, aquele que quebra sua palavra atraiçoa toda sociedade humana”.

Iran Ferreira de Miranda é filiado ao SinpecPF e produziu este texto em parceria com o jornalista Luis Felipe Silva