Linha de investigação da Polícia Federal para a operação de entrada suspeita dos dólares do dossiê é questionada pelo banco

Há, entre funcionários graduados do Banco Central, uma discreta desconfiança em relação à investigação da Polícia Federal sobre a origem do R$ 1,7 milhão encontrados com os petistas Vadebran Padilha e Gedimar Passos, num quarto do Hotel Íbis, em São Paulo. Em conversas reservadas com o Correio, dois dirigentes do BC informaram ontem ser “pouco provável” que a entrada dos US$ 248,8 mil tenha se dado de forma legal, como afirma a PF. Mais que isso, até agora não chegou ao Banco Central nenhum ofício ou requerimento de informação a respeito do dinheiro ou das instituições financeiras envolvidas.

Antecipando-se a qualquer desentendimento com a PF, o Banco Central tratou de divulgar, no início da noite, uma curta nota oficial em que “esclarece” três pontos: o número de série das notas de dólar são irrelevantes para o registro das operações de câmbio; todas as compras e vendas de dólares são registradas no BC com nome do comprador e do vendedor; e finalmente, tais informações são protegidas por sigilo bancário.

O comunicado do Banco Central fala mais nas entrelinhas que nas linhas. Naquelas, o BC avisa que não é possível descobrir o responsável pelos dólares apreendidos pelos petistas apenas a partir do número de série das notas, como vem fazendo a Polícia Federal. E deixa claro que, se a operação é mesmo legal, como afirma a PF, o nome de todos os envolvidos está registrado em seu Departamento de Câmbio. O último ponto da nota pode ser entendido como um convite para que os policiais solicitem formalmente os dados, com autorização da Justiça. Até agora, nada disso foi feito.

Um dos dirigentes do BC mencionou o Patriotic Act, baixado pelo governo norte-americano após os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001. Ele endurece a legislação contra a lavagem de dinheiro, entre outras coisas. E torna muito restrito o trânsito de dólares em espécie para fora do território dos EUA. Mesmo na hipótese de ele ter saído de lá com autorização, argumenta a fonte, teria que ser obrigatoriamente registrado no BC, em se tratando de uma operação legal.

A PF, por seu lado, segue sua linha de investigação. Ontem, anunciou o banco paulista Sofisa como responsável pela internação do dinheiro no Brasil. E avisou que investiga dez pessoas físicas e jurídicas, inclusive corretoras de valores, casas de câmbio e doleiros, como receptores dos dólares distribuídos pelo Sofisa.

Vedoin depõe contra deputados

Luiz Antônio Vedoin, chefe da máfia das ambulâncias, reafirmou na Polícia Federal as acusações contra os parlamentares que receberam propinas. Ontem, ele foi ouvido o dia todo em Cuiabá por três delegados da PF de Brasília. Os depoimentos são para os processos que correm no Supremo Tribunal Federal contra os parlamentares.

Segundo a assessoria de imprensa da PF, os três delegados devem ficar até sábado ouvindo Luiz Antônio, seu pai, Darci Vedoin, e a ex-assessora do Ministério da Saúde Maria da Penha Lino, também presa durante a Operação Sanguessuga. Ao todo, 82 deputados federais e dois senadores respondem a processo no STF. Nessa fase, os Vedoin e Maria da Penha serão ouvidos em 24 processos. “Eles estão reafirmando o que sempre disseram no início das investigações”, disse o advogado Elói Ricardo Reffatti, que acompanhou as audiências

O Ministério Público Federal de Mato Grosso impetrou ações de improbidade administrativa na 5ª Vara Federal do estado contra Luiz Antônio e Darci. Eles são suspeitos de liderar a chamada máfia dos sanguessugas, que promovia a compra superfaturada de ambulâncias com recursos do Orçamento.

Assessores

O MP também acusa de improbidade os deputados federais Lino Rossi (PP), Pedro Henry (PP), Wellington Fagundes (PL) e Ricarte de Freitas (PTB), além do empresário Ronildo Medeiros e dois assessores parlamentares, todos de Mato Grosso, por suspeita de envolvimento com a fraude. A compra das ambulâncias era feita por meio de emendas parlamentares. No mesmo processo, enviado à Justiça na última terça-feira, o Ministério Público solicitou o seqüestro de bens dos supostos envolvidos com o esquema. O juiz José Pires da Cunha negou o pedido. 

 

BB inocenta Expedito

O Banco do Brasil inocentou o ex-diretor de gestão de risco, o petista Expedito Afonso Veloso, das acusações de violação do sigilo bancário dos empresários Abel Pereira e do grupo Planam. Segundo o banco, a auditoria interna iniciada na sexta-feira chegou a conclusão preliminar de que, entre julho e setembro, Veloso não acessou diretamente as contas de qualquer das pessoas envolvidas. O BB não divulgou a informação por escrito. Repassou-a verbalmente por intermédio da assessoria de imprensa.

Expedito Veloso é um dos petistas a que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva chamou de “bando de aloprados”. Sindicalista ligado ao ex-ministros Ricardo Berzoini e Luiz Gushiken, ele licenciou-se do Bando do Brasil e integrou-se à campanha reeleitoral do presidente da República. Nos últimos dias, participou ativamente das tratativas com o empresário Luiz Antônio Vedoin, sócio da Planam e chefe da máfia dos sanguessugas, na transação do dossiê contra o PSDB. Viajou a Cuiabá para conferir o conteúdo das informações prometidas por Vedoin.

Na última sexta-feira, o deputado Fernando Gabeira (PV-RJ), sub-relator da CPI dos Sanguessugas, recebeu da Polícia Federal a informação de que o PT soube por Expedito Veloso das ligações da máfia com o empresário Abel Pereira, ligado ao último ministro da Saúde do governo Fernando Henrique Cardoso, Barjas Negri. Expedito, por seu turno, teria tomado conhecimento disto depois de xeretar contas bancárias mantidas no BB por Abel e por empresas do grupo Planam.

A auditoria interna do banco levou menos de 48 horas para concluir pela inocência do ex-diretor, afastado do cargo na quarta-feira da semana passada. Mas, de acordo com a assessoria de imprensa, a investigação continuará. Expedito também é alvo de questionamentos da Comissão de Ética Pública do governo federal. Ele não poderia participar de campanhas eleitorais durante período em que seu salário fosse pago por empresa estatal.

Ugo Braga

Correio Braziliense