A anunciada saída de Márcio Thomaz Bastos do ministério da Justiça, num eventual e quase sacramentado segundo mandado do presidente Luis Inácio Lula da Silva, repercute em diversos setores. Como não poderia deixar de ser dentro da Polícia Federal e até mesmo fora do órgão, já aparece a famosa e terrível especulação sobre Quem Será o Novo Diretor Geral da Polícia Federal?   

A constância da famigerada, curiosa, tradicional e inevitável pergunta também vem crescendo em virtude das declarações e do comportamento de Paulo Lacerda. Assessores mais próximos do diretor  afiançam que ele não fica na direção da PF se Thomaz Bastos pegar o chapéu e for para casa. Lacerda tem afirmado nos estados que visita que se Márcio sair ele também sai. “Entrei com ele e sairei com ele” estaria dizendo  o DG.

Uma coisa é certa, a antecipação do processo de escolha do novo DG já está nos corredores da PF e aos poucos transborda para fora deles. Diante disso, alguns assessores, coordenadores e diretores da administração de Lacerda sonham com a cadeira do chefe famoso.

Na outra ponta a ambição do tradicional grupo tucano está mais forte do que nunca. A maioria dos emplumados espera ainda uma vitória de Geraldo Alckmin, mas se ela não vier o grupo já traça estratégias para chegar ao nono andar  do “Máscara Negro”, por outras vias. O sonho dos tucanos não é de todo absurdo. Lacerda, conhecido pelo seu trabalho no Caso PC Farias trabalhou durante 9 nove anos no gabinete do pefelista Romeu Tuma.  

Por fora correm outros grupos formados por aqueles que estão fora dos cargos de comando atualmente e que se sentem igualmente aptos para assumir o cargo maior da PF.

HISTÓRIA – A sucessão na Polícia Federal  sempre foi acompanhada de pedidos políticos e apadrinhamentos dos mais variados. Durante o regime militar os presidentes ditadores não vacilavam e nem corriam “risco” de perderem o controle das investigações federais. Para isso nomeavam um militar ou um civil “OBEDIENTE” para o cargo de DG. O nomeado era uma espécie de extensão do governo totalitário e executava sem pestanejar as ordens vindas da caserna. A escrita do “eu indico, portanto mando” só foi quebrada com a nomeação de Vicente Chelloti. Logo depois de assumir o órgão ele não aceitou o controle militar, mesmo que isso fosse o início de um processo que lhe custaria o cargo.

Com essa atitude de não atender mais ordens dos militares ou membros do governo federal que não deveriam se intrometer nos assuntos policiais constitucionais, Vicente Chelloti entrou para a história da Polícia Federal. Ele foi o primeiro diretor a fazer um enfrentamento real, principalmente contra alguns generais palacianos e membros da antiga ABIN, pela independência da PF.  

O novo ordenamento implementado por Chelloti encontrou duras resistências até dentro do órgão. Pressões e palpites vinham de todo o lado, inclusive do Palácio do Planalto. Um dos episódios que ficou celebrizado na época foi o caso “Dossiê Cayman” onde o próprio FHC, então presidente da república, teve o nome envolvido em dossiês falsos e mesmo assim se preocupou e exigia saber de tudo que a PF investigava.

A atuação da Polícia Federal hoje gera inúmeros questionamentos sobre a autonomia do órgão, já que as investigações em muitos casos acabam envolvendo até membros do atual governo e endinheirados nacionais. A resposta sobre essa maior liberdade de ação é simples: a autonomia se deve em muito ao ministro da justiça Márcio Thomaz Bastos.

Mesmo “pressionado”, muitas vezes por membros do primeiro escalão do governo, Bastos nunca cedeu ou consentiu qualquer interferência indevida nas investigações da PF. De outro lado, foi imprescindível a mudança de mentalidade dos próprios policiais federais, novos e antigos, e isso contribuiu para que as interferências externas, indevidas e ilegais deixassem de encontrar ressonância.

A FENAPEF sempre lutou pela independência da PF nos seus 16 anos de vida.

LUTA –  A Federação Nacional dos Policiais Federais sempre lutou pela independência da PF nos seus 16 anos de vida. A luta pela independência do órgão é um princípio  do qual a entidade jamais  abrirá mão, já que a POLÍCIA FEDERAL é uma instituição republicana de ESTADO e não de governos que começam e acabam a cada quatro anos.

É por sustentar a bandeira de INDEPENDÊNCIA TOTAL da Polícia Federal que a FENAPEF está preocupada com a sucessão do ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos. É  importante que os avanços conquistados até aqui pela luta de milhares de policiais não seja jogada no lixo por um possível sucessor que coloque o Departamento de joelhos fazendo o papel de apêndice da presidência da república ou de ministros.

A Federação está atenta a qualquer indicação de nomes para o cargo de diretor geral da Polícia Federal. Se o nome for de uma pessoa ideológica e democraticamente atrasada ou de uma pessoa que não saiba liderar toda a Polícia Federal ele será rechaçado. Se o nome for de um policial que só pense em favorecer um único segmento, faremos de tudo para que esse nome não venha a ser confirmado.

Independente do grupo que vencer a disputa pela cadeira de Lacerda, se este efetivamente confirmar sua saída junto com a do ministro Márcio Thomaz Bastos, o nomeado terá de saber e exercitar a palavra democracia na sua plenitude e não parcialmente. Democracia existe ou não existe, não cabe meio termo. Além disso, é importante que o principal passageiro do elevador privativo das autoridades no edifício do DPF saiba valorizar uma instituição que é hoje tida pelo governo federal como a melhor bandeira administrativa. E o mais importante: uma instituição que tem a credibilidade total da população brasileira.

A FENAPEF acompanha a evolução operacional da PF e sabe que alguns acertos ainda são necessários. Um exemplo disso são as acusações irresponsáveis e genéricas que acabam prejudicando imagens funcionais já consagradas. No futuro essas mesmas pessoas são  inocentadas, porém nenhuma reparação é possível para recuperar suas honras. Sabemos também que extirpando alguns erros, as operações da PF são, na sua maioria, exemplares e gratificantes do ponto de vista policial e até do ponto de vista cívico.

Por outro lado o processo que contribuiu para que a PF atingisse o grau de credibilidade perante a sociedade brasileira foi iniciado pela FENAPEF há 16 anos. A Federação  lutou por novos concursos, nível superior para todos e por maiores orçamentos para a PF no Congresso Nacional.  Por isso o movimento sindical da Polícia Federal, como avalista deste processo, não irá permitir que aventureiros de qualquer ordem venham a destruir o que foi construído com o sacrifício e pela luta dos servidores do Departamento de Polícia Federal e pela Federação Nacional dos Policiais Federais e seus SINPEFs filiados.

Fonte: Agência Fenapef

30/08/2006