Para delegado, falhas e omissões no controle do tráfego aéreo causaram choque entre o Legacy e o avião da Gol

Relatório da Polícia Federal que será enviado hoje à Justiça Federal em Sinop, em Mato Grosso, responsabiliza dois controladores do tráfego aéreo de Brasília por falhas e omissões que, se tivessem sido corrigidas a tempo, poderiam ter evitado o choque entre o jato Legacy, da ExcelAire, e o Boeing 737-800 da Gol, no acidente que matou 154 pessoas no final de setembro. O delegado Ramon de Almeida, encarregado do inquérito, só não indiciou os dois pelos crimes porque ainda não sabe se a competência para analisar o caso é da Justiça comum ou da Justiça Militar.

O delegado está em dúvida sobre eventuais falhas cometidas por um dos controladores de vôo de São José dos Campos, cidade de onde partiu o Legacy antes do choque com o boeing da Gol. Almeida ainda não tem certeza se o controlador passou uma mensagem imprecisa para os pilotos do Legacy Jan Paladino e Joe Lepore por imperícia ou se foi induzido a erro por um de seus colegas do Centro de Controle do Tráfego Aéreo de Brasília. No relatório, o delegado pede também mais prazo para aprofundar as investigações.

Em reportagem publicada dia 3 deste mês, O GLOBO mostrou omissões e falhas de controladores de vôo de Brasília e São José dos Campos que, para a PF, contribuíram para o desastre. Os indícios sobre as supostas falhas foram reforçados no relatório que vai para a Justiça.

Controlador de Brasília não notou altitude do Legacy

Um dos erros mais graves é atribuído a um 3º sargento do Centro de Controle de Tráfego Aéreo de Brasília. Pelas investigações da polícia, o militar, de 27 anos de idade e com apenas um ano de experiência profissional, não notou que, mesmo após passar por Brasília, o Legacy se manteve a 37 mil pés de altitude.

Pelo plano de vôo original, o Legacy deveria ir de São José dos Campos a Brasília a 37 mil pés de altitude. Ao passar pela capital, desceria para 36 mil pés, no norte de Mato Grosso subiria para 38 mil pés e seguiria até Manaus nesta altitude. A faixa de 37 mil pés estava reservada ao Boeing da Gol, que saíra de Manaus para o Rio de Janeiro. O controlador deveria entrar em contato com o Legacy e pedir explicações sobre a decisão de manter o avião a 37 mil pés.

O Globo