Comitês de Alckmin e de Lula pediram a retirada do ar de 32 blogs e de dezenas de comunidades por ofensas aos candidatos

A Polícia Federal está à procura de dezenas de internautas que cometeram crime contra a honra de dois candidatos à Presidência da República em sites da internet. Os comitês jurídicos dos candidatos Geraldo Alckmin (PSDB) e de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pediram à PF que sejam retirados do ar 32 blogs (páginas pessoais) e dezenas de comunidades do Orkut (site de relacionamentos) que publicam ofensas pessoais a ambos.

Segundo o delegado Adauto Martins, chefe da Unidade de Repreensão à Crimes Cibernéticos, não será fácil chegar aos autores das páginas, principalmente se elas estiverem hospedadas no Orkut. Para se ter uma idéia, a Polícia Federal tem dificuldade de localizar até pedófilos que publicam fotos de adultos fazendo sexo com crianças no site. E mais: a Google, empresa norte-americana que administra o Orkut, não colabora com as investigações brasileiras. “Chegar até os autores dessas páginas é encontrar agulha no palheiro”, ressalta Martins.

A Polícia Federal também está à caça de internautas que enviam e-mails coletivos para até 800 mil pessoas ofendendo a honra dos candidatos. Nessas mensagens, eles chamam os políticos de ladrão, corruptos e outras ofensas impublicáveis. “Nesse caso é mais fácil chegar aos autores. Principalmente se eles usarem provedores nacionais. Mas, mesmo assim, os crimes acabam indo parar na Justiça comum, mesmo que seja contra políticos”, explica o perito criminal da PF Paulo Quintiliano, chefe da Perícia em Informática da PF.

Lula o mais ofendido

No Orkut, site que congrega mais de 12 milhões de brasileiros, Lula é o candidato mais ofendido. A comunidade “Fora Lula 2006” tem 170,5 mil membros e defende que o petista não deve permanecer no governo. “O governo Lula é um fracasso total. Se você não agüenta mais o PT e esse presidente no poder, você é um dos nossos!”, diz a comunidade logo na abertura. Nos fóruns de discussões, os internautas criam histórias e situações ofensivas sobre o fato de Lula ter quatro dedos na mão esquerda. Um dos internautas sugere que a modelo Daniela Cicarelli, que tem seis dedos num dos pés, dê de presente um dedo ao presidente.

Nas demais páginas que criticam Lula, há fóruns de discussão dizendo que Lula é mais cego do que o personagem Jatobá, que o ator Marcos Frota interpretou na novela América, da Rede Globo. Isso porque, segundo os internautas, ele não teria enxergado seus aliados “roubando” no governo. A foto-montagem que ilustra a comunidade apresenta Lula com óculos escuros, típico de pessoas com deficiência visual.

O segundo presidenciável mais atacado na internet é Geraldo Alckmin. Mais de 20 comunidades criticam seu governo em São Paulo e fazem ataques pessoais. A maior delas chama-se “Alckmin nem morto!” e tem 12,5 mil membros. Nos fóruns de discussão sobre o candidato, os internautas sustentam que não votam no tucano porque ele é sócio da Daslu, “matador de meninos na Febem” e membro da Opus Dei. Alckmin também é apelidado de “picolé de chuchu” nas comunidades.

A candidata do PSol, senadora Heloísa Helena, é a menos agredida. Numa das poucas páginas que trazem ofensas pessoais à ela mostra uma foto-montagem comparando-a com a Chiquinha, do seriado mexicano Chaves. Na página, a candidata está com as pintas pretas no rosto, típicas da personagem, e com óculos de aro preto. Numa outra comunidade Heloísa Helena é chamada de “louca” e “desequilibrada”. O comitê da candidata não deu queixa na Polícia Federal.

Comunidades do Orkut se multiplicam em manifestações contra candidatos e vêm sendo combatidas pelos partidos

Todos têm comunidades

Todos os candidatos ao Palácio do Planalto têm comunidades oficiais no Orkut. A que defende a candidatura do governo Lula, por exemplo, tem mais de 170 mil usuários. Nela, está exposto todo o programa de governo do candidato. A comunidade oficial de Geraldo Alckmin no site de relacionamentos tem mais de 140 mil internautas. Os usuários dizem que ele é o mais preparado e elegante para governar o país. A comunidade de Heloísa Helena tem pouco mais de 100 mil membros.

Nas comunidades que defendem os candidatos, todos eles são enaltecidos. No entanto, a senadora Heloísa Helena é a que recebe mais carinho dos internautas. “Ela tem fãs, enquanto os outros tem eleitores”, analisa o cientista político Carlos Eduardo Thé, da Universidade de Campinas (Unicamp). No Orkut, dezenas de pessoas estão até arrecadando roupas de cores variadas para enviar a senadora. “Quem sabe a nossa Helô abandona esse figurino branco sem-graça”, apostam os internautas.

A comunidade de Lula mostra o candidato desde o início da sua trajetória política. As fotos do Lula barbudo, todo suado, com camisa aberta e cabelo desgrenhado nada lembra o político que hoje aplica botox e só usa ternos Ricardo Almeida. Quem ousa entrar e criticar a ascensão do petista é rechaçado na hora. “Use o exemplo dele para melhorar a sua vida também”, justificam os admiradores do candidato. No Orkut, qualquer internauta cadastrado pode entrar nas páginas e deixar comentários. 

 

O Destempero de Ciro gomes

Fortaleza – O destempero verbal do ex-ministro da Integração Nacional Ciro Gomes (PSB) atrapalhou sua campanha à Presidência da República em 2002. Esta semana, seu discurso sem meias palavras tornou-se tema da eleição para o governo do Ceará. Ontem, Ciro, candidato a deputado federal, usou o programa eleitoral gratuito na TV para desculpar-se de falar palavrões, ao acusar o governador Lúcio Alcântara (PSDB), em um comício.

“Fui levado pela indignação. Permiti que a emoção tomasse minha palavra fazendo escapar uma expressão que não tinha a intenção e nem gostaria de ter utilizado. Me excedi nas palavras e me arrependo pelo que aconteceu”, disse Ciro ontem à noite.

Ciro desculpou-se de ter feito xingamentos em um comício, no dia 30 de setembro, no município de Pacajus. “O governante que hoje está no Ceará só fez força para comprar a consciência, para distribuir dinheiro para politiqueiro filho da p…”, disse ele. O discurso entrou na campanha na segunda-feira à noite, quando Lúcio Alcântara, candidato à reeleição, e José Maria de Melo, que também concorre ao governo do estado, divulgaram em seus programas um vídeo com imagens do comício.

O ex-ministro é o principal cabo eleitoral de Cid Gomes, seu irmão e candidato que lidera as pesquisas de intenção de voto no estado. O objetivo dos adversários é convencer os eleitores de que Ciro não tem estabilidade emocional e respeito pela população, e que poderia influenciar decisivamente em um eventual governo de Cid Gomes.

Com medo de que o ataque tenha efeito contrário, os candidatos justificaram a divulgação do vídeo como um forma de “respeitar a família”. Uma criança aparece ao lado do candidato a deputado federal. “Esse é o triste exemplo do que existe de pior na política do nosso estado: arrogância, truculência e desrespeito às pessoas”, atacou Alcântara, em responder, porém, a afirmação de que ele distribui dinheiro a políticos.

A acusação de Ciro foi uma resposta aos ataques de Alcântara contra Cid Gomes, que é ex-prefeito de Sobral, cidade no norte do estado. Os adversários apontam irregularidades na compra de merenda escolar em sua gestão entre 1996 e 2000. Ciro diz que a contundência do discurso foi resultado da indignação com a calúnia. “Estava indignado com as insinuações maliciosas e falsas acusações. Saí em defesa da honra da minha família”, disse.

A menos de três semanas da eleição, a campanha estadual esquentou no Ceará com a possibilidade de vitória de Cid Gomes no primeiro turno. Pesquisa Ibope, divulgada ontem, apontou crescimento dos índices do candidato do PSB. Ele subiu de 51% para 56% das intenções de voto, enquanto Lúcio Alcântara, seu principal concorrente, caiu de 37% para 32%.

Ontem o Tribunal Regional Eleitoral do Ceará obrigou o PSDB local a divulgar a propaganda do ex-secretário geral do partido Bismarck Maia, candidato a deputado federal. 

 Estava indignado com as insinuações maliciosas e falsas acusações. Saí em defesa da honra da minha família 

Ciro Gomes, candidato a deputado federal

 

A volta da Brizolândia 

 

Rio de Janeiro — Vista inicialmente com desconfiança por brizolistas históricos, a candidatura do senador Cristovam Buarque está conseguindo reunir os cacos do partido ao levar militantes para as ruas do Rio. Martelando no ouvido dos eleitores o slogan da “Revolução na Educação”, marcas do ex-governador Leonel Brizola, o senador brasiliense conseguiu em três meses mudar a opinião de correligionários e militantes dos partidos contrários inicialmente à sua candidatura.

Numa eleição presidencial marcada pela falta de militância, o candidato conseguiu, por exemplo, reunir ontem cerca de mil seguidores dos partido numa passeata na Avenida Rio Branco, no centro de Rio de Janeiro. O sucesso das passeatas — houve uma no feriado de 7 de setembro, em Copacaba — fez as lideranças do partido se lembrarem dos tempos da Brizolândia, quando militantes do PDT se reuniam na Cinelândia para cultuar Brizola

A criação do Ministério da Educação do Ensino Básico, a substituição do cargo de deputado pelo de representante do povo e o fim do sigilo fiscal e bancário de políticos estão entre as propostas do Programa de Governo do candidato à Presidência da República pelo PDT, lançado ontem por Cristovam na sede da Associação Brasileira de Imprensa (ABI).

Ullisses Campbell

Correio Braziliense