Presidente afirma a dirigentes partidários que quer esperar convenção do PMDB

Petista conta com Jobim na direção da sigla para ajudar na montagem do xadrez; principal entrave são nomes para a Saúde e Cidades

Em conversas ontem com dirigentes do PSB e do PC do B, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva indicou que pode fechar os nomes da reforma ministerial somente após a convenção nacional do PMDB, em 11 de março. Lula quer ganhar tempo para superar alguns conflitos, principalmente os que envolvem seu partido e o PMDB.

Lula disse à cúpula do PSB que gostaria de concluir as negociações com o PMDB diretamente com o novo presidente da sigla. Disputam o cargo o atual presidente, deputado Michel Temer (SP), e o ex-presidente do STF (Supremo Tribunal Federal) Nelson Jobim.

Há possibilidade de a reforma ser anunciada antes da convenção do PMDB desde que o presidente chegue a um acordo para indicar o peemedebista José Gomes Temporão para o Ministério da Saúde e defina o destino de Marta Suplicy no governo, que pode realmente ser o Ministério das Cidades.

Antes, porém, Lula terá de vencer as resistências dentro do PP, que dá como certa a manutenção de Márcio Fortes. Se perder Cidades, seu destino pode ser a pasta da Agricultura.

Ontem, no Palácio do Planalto, Lula falou com o PSB por duas horas e meia e também teve encontros com o PC do B.

“O presidente pretende concluir a equipe ao final da primeira quinzena de março. A decisão do PMDB [de escolher o novo presidente] é o ponto final para anunciar o novo ministério”, afirmou o deputado Beto Albuquerque (RS), que participou do encontro juntamente com o presidente da sigla, governador Eduardo Campos (PE), o vice-presidente, Roberto Amaral (RJ), e o senador Renato Casagrande (ES).

“O presidente não está exatamente apressado em definir de forma imediata seu ministério para o segundo governo, isso faz parte ainda de conversações”, disse Renato Rabelo, presidente do PC do B.

Na disputa pela direção do PMDB, Lula tem preferência por Jobim, que conta com o apoio do presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), e do ex-presidente José Sarney (AP).

Lula já decidiu manter Comunicações e Minas e Energia com o “PMDB do Senado” e entregar Saúde e uma outra pasta, que pode ser a Integração Nacional, ” ao PMDB da Câmara”.

Com o apoio de peemedebistas da Câmara e fortalecido pela vitória de Arlindo Chinaglia (PT”-SP) à presidência da Casa, o grupo de Temer resiste à indicação de Temporão e quer o anúncio da reforma ministerial antes da convenção.

Ontem, Lula deixou claro que manterá o Ministério de Ciência e Tecnologia com o PSB, mas não assumiu o mesmo compromisso no caso da Integração Nacional.

Lula sinalizou também que gostaria de ter de volta à equipe o ex-ministro da Integração Nacional Ciro Gomes. O ex-ministro deseja permanecer na Câmara, mas integrantes do PSB não descartaram a possibilidade de ele mudar de posição.

O governo já admite que nenhum aliado ficará plenamente satisfeito com a reforma. O mais difícil é justamente o PT de Lula, que por isso mesmo ficou para o final nas conversas.

Um dos responsáveis pelas articulações, Tarso Genro fala que a partir de terça-feira, depois da conversa com o PT, o presidente já terá como definir o ministério, com todos os cenários traçados.

As complicações no xadrez da reforma se acentuaram depois que Lula decidiu manter Fernando Haddad no Ministério da Educação, para onde poderia ser nomeada Marta. Lula ficou impressionado com o plano educacional em elaboração por Haddad, que deve ser anunciado na próxima semana.

PEDRO DIAS LEITE, EDUARDO SCOLESE, VALDO CRUZ

Folha de S. Paulo

23/2/2007