Deverá começar às 13h desta segunda-feira, no plenário do 1º Tribunal do Júri de São Paulo, o júri do caso Richthofen, um dos mais esperados do ano. Há expectativa sobre as manobras que os advogados dos réus Suzane von Richthofen e dos irmãos Daniel e Cristian Cravinhos poderão adotar para adiar a sessão, a exemplo do que fizeram no último dia 5 de junho.

Suzane, Daniel e Cristian são réus confessos no processo que os acusa de ter planejado e matado os pais dela, Manfred e Marísia von Richthofen, na casa em que a família vivia, na zona sul de São Paulo, em 2002. Suzane e Daniel namoravam na época. Os três estão no sistema penitenciário.

Em junho, os advogados de Suzane abandonaram o plenário, antes da instauração do júri, em protesto contra a decisão do juiz que presidia a sessão, Alberto Anderson Filho, de ignorar a ausência de uma testemunha da defesa e prosseguir com os trabalhos.

Os advogados dos irmãos Cravinhos, por sua vez, sequer compareceram ao tribunal. Eles alegaram cerceamento da defesa, pois não haviam conseguido encontrar-se com os clientes na semana anterior à data.

Desta vez, o juiz cercou-se de alguns cuidados para garantir a realização do júri. No fim do mês passado, por exemplo, ele autorizou o advogado Geraldo Jabur a encontrar-se com os irmãos Cravinhos em uma sala reservada, no fórum da Barra Funda (zona oeste de São Paulo). O advogado reclamava das condições impostas pela diretoria do Cadeião de Pinheiros (zona oeste de São Paulo) para o encontro com seus clientes.

“Quero evitar a possibilidade de eles arrumarem desculpas para não fazer [o julgamento]”, disse o magistrado, na ocasião.

Outra estratégia adotada pelo juiz ainda na primeira tentativa de realizar o júri foi a de nomear um defensor público para assumir a defesa dos irmãos Cravinhos, caso Jabur falte novamente. Por precaução, ele chegou a nomear um defensor público substituto, caso o primeiro esteja impossibilitado.

Suzane

São os advogados de Suzane, porém, que têm protagonizado mais batalhas na Justiça. Desde sua prisão, ela obteve liberdade provisória; foi presa sob o argumento de que ameaçava o irmão adolescente; foi colocada em prisão domiciliar pelo ministro Nilson Naves, do STJ (Superior Tribunal de Justiça); e perdeu o benefício por decisão dos ministros do mesmo tribunal.

Recentemente, os advogados moveram uma série de recursos para tentar separar o julgamento de Suzane dos irmãos Cravinhos, mas não obtiveram sucesso. “Lutamos. Fizemos mais do que qualquer advogado poderia. Agora não há mais nada o que fazer, o júri será realizado”, disse na semana passada um dos advogados da ré, Mauro Otávio Nacif.

Os três serão julgados juntos, ao menos inicialmente. A decisão final caberá ao juiz, no momento em que o júri for instaurado.

Suzane, que estava em prisão domiciliar, voltou ao sistema penitenciário paulista no último dia 29 de junho. Para o promotor de Justiça Nadir de Campos Júnior, que atua no caso, a decisão reduziu drasticamente a possibilidade dos advogados dela tentarem adiar o júri mais uma vez.

“Suzane volta para o sistema prisional como se tivesse sido presa no dia do crime. Nós [promotores de Justiça], agora, temos tranqüilidade para fazer o júri, porque os advogados com certeza não vão querer adiá-lo, afinal, ela não terá nenhum benefício a partir disso.”

Herança

No final da semana passada, os advogados de Suzane decidiram falar à imprensa em uma entrevista coletiva. Eles anunciaram que a jovem está disposta a abrir mão da herança deixada pelos pais, cujo valor é estimado em R$ 2 milhões, em favor do irmão, Andreas, 19.

“Só tocamos nesse assunto agora porque a juíza quebrou o segredo de Justiça”, explicou o advogado Denivaldo Barni, que era amigo do pai de Suzane, Manfred, e acolheu a moça em casa depois do crime.

“Ela abriu mão de tudo desde o início. Disse que não queria nada, com a condição de que o irmão não movesse um processo de exclusão de herança contra ela. Queria evitar uma atitude ‘feia’ dele, mas não conseguiu o acordo. Mesmo assim, porque gosta muito do Andreas, quer administrar a herança”, argumentou Nacif.

Nenhuma das explicações, entretanto, convenceu o criminalista Alberto Zacharias Toron, assistente da acusação. “Ela sempre teve interesse na herança, tanto que resistiu ao processo movido pelo irmão. Eles [os advogados de defesa] falam o contrário agora, três anos depois, porque querem humanizar a vilã.”

GABRIELA MANZINI

da Folha Online