Trabalhadores mais velhos ganham espaço

Eles são hoje 3,6 milhões nas seis regiões metropolitanas, trabalham por conta própria, ganham 36,3% a mais que a média e se concentram na construção e nos serviços domésticos. São os trabalhadores com 50 anos ou mais, único grupo etário a ganhar espaço no mercado de trabalho nos últimos quatro anos, de acordo com pesquisa divulgada ontem pelo IBGE. Em maio de 2002, representavam 15,4% de toda a força de trabalho ocupada em Rio, São Paulo, Recife, Salvador, Belo Horizonte e Porto Alegre. Quatro anos depois, já são 18,1%.

— Enquanto o número de trabalhadores como um todo cresceu 13,9% de 2002 a 2006, nessa faixa etária, o aumento foi de 33,9%. O envelhecimento da população, as reformas previdenciárias que retardaram a aposentadoria e a necessidade de complementar renda são algumas explicações para esse avanço — explicou Maria Lúcia Vieira, analista da Pesquisa Mensal de Emprego e responsável pelo levantamento.

No Rio, o avanço da população madura foi maior, a ponto de representar quase um quarto de todos os 4,9 milhões de ocupados na região. São 22,3%, bem acima da fatia encontrada em Porto Alegre, de 17,8%, segunda região que concentra mais pessoas desse grupo etário.

— No Rio, além de ter uma população idosa maior, há mais mulheres, que vivem mais. Acredito que o desemprego atingiu mais os jovens no Rio e os afastou do mercado de trabalho. Na distribuição, então, a participação dos mais velhos sobe — diz Ana Amélia Camarano, economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), estudiosa da situação dos idosos no Brasil.

Ao investigar esse grupo, a pesquisa descobre algumas características distintas da média. Enquanto entre a população ocupada, a maioria (41,7%) é de empregados com carteira assinada; entre os mais velhos, os conta própria são a maior parcela (32,7%).

Funcionalismo pode explicar renda mais alta

Os funcionários públicos também crescem no tamanho da participação nesse segmento: entre os trabalhadores de todas as idades, são apenas 7,3%. No grupo de 50 anos ou mais, a fatia salta para 13,8%:

— Há muitos anos não se tem concurso público no país. Portanto, os servidores são mais velhos. Não há renovação — disse Ana Amélia.

O alcance da maturidade no trabalho explica um pouco a diferença salarial entre a média dos ocupados e os trabalhadores de 50 anos ou mais. Este último grupo ganha 36% a mais (R$ 1.401,30). Ganho que foi engordando ao longo dos anos. Em 2002, a diferença era de apenas 2,4%. O aumento do número de servidores e dos empregadores explica essa diferença crescente. Essas categorias ganham mais, assim a média sobe.

— Os trabalhadores com mais escolaridade, como profissionais liberais ganham mais com a idade. A experiência faz aumentar a procura e o preço do serviço. Entre os 45 e 50 anos, chega-se ao ápice da renda. Depois, somente com a aposentadoria, a renda dos idosos começa a cair. No funcionalismo, chega-se ao fim da carreira, com maior salário — afirma Ana Amélia.

O dado desalentador vem exatamente da escolaridade. Entre os sem instrução na população ocupada, os que têm 50 anos ou mais são quase a metade (46,1%).

— Os mais velhos são menos instruídos. A universalização do ensino é recente.

Houve até avanço da instrução, mas em ritmo menor que entre a média dos trabalhadores. Os que tinham 11 anos ou mais de estudo eram 36,9% em 2002. Agora, são 40,3%.

Nesse contingente está incluída a economista do lar Ana Marques. Aos 60 anos, demorou cinco para se empregar novamente depois de se aposentar aos 54 anos, como secretária-executiva. Procurou durante anos e a idade sempre foi um empecilho. Divorciada, com um filho, precisou complementar a renda. Em janeiro deste ano, conseguiu uma das vagas oferecidas pela rede de supermercados Sendas para essa faixa etária:

— Ganho menos, mas não agüentava mais ficar em casa, lavando, passando e cozinhando. Não nasci para isso, trabalho desde os 13 anos.

Cássia Almeida

O Globo