Ex-ministro da Saúde é incluído entre os 33 parlamentares investigados pela CPI, que agora chegam a 90. Dois terços dos acusados fazem parte de partidos da base aliada e muitos são ligados ao mensalão

A CPI dos Sanguessugas incluiu ontem mais um ex-ministro da Saúde do governo Luiz Inácio Lula da Silva entre os suspeitos de envolvimento com a quadrilha acusada de fraudar a compra de ambulâncias com dinheiro público. Saraiva Felipe, que é deputado federal pelo PMDB de Minas Gerais, está entre os 33 parlamentares notificados para prestar esclarecimentos à comissão. O outro ex-ministro, Humberto Costa, candidato ao governo de Pernambuco pelo PT, também está sob suspeita, mas a cúpula da CPI decidiu, pelo menos por enquanto, focar o trabalho apenas em deputados e senadores que exercem mandato. Com as novas notificações, subiu para 90 o número de congressistas — 87 deputados e três senadoreso)— suspeitos. A lista com 33 investigados foi a terceira divulgada no Congresso. Há outros 24 ex-congressistas que deverão ter seus nomes também conhecidos.

Felipe, que chefiou o ministério entre julho de 2005 e março deste ano, foi citado pelo empresário Luiz Antônio Vedoin em depoimento à Justiça e pela ex-assessora do Ministério da Saúde Maria da Penha Lino, segundo a CPI. Os dois teriam afirmado que o ex-ministro tinha conhecimento do esquema atribuído aos sanguessugas. “Ele (Saraiva Felipe) e a Maria da Penha eram amigos. Ele ajudaria a agilizar os processos da Planam”, explicou o deputado José Carlos Aleluia (PFL-BA). Integrantes da comissão sugeriram ainda que Felipe destinou verbas próprias do ministério para a compra de ambulâncias, beneficiando também a Planam. A mesma acusação pesa contra Humberto Costa, que nega tudo.

O deputado Júlio Delgado (PPS-MG) disse que o fato de Maria da Penha ter assumido um cargo na pasta da Saúde, na gestão de Felipe, é suficiente para que os dois sejam relacionados. “Alguém colocou ela lá. Não me venha falar que foi indicação do Divino”, afirmou. A ex-assessora chegou ao ministério em julho de 2005, por indicação do deputado José Divino, hoje do PRB do Rio, mas à época do PMDB. Divino também está na lista dos 90 investigados pela CPI. O presidente da comissão, deputado Antônio Carlos Biscaia (PT-RJ), reforçou que o foco da comissão, agora, serão os parlamentares com mandato, e por isso Saraiva entrou. Mas o deputado admite que Humberto Costa poderá ser incluído no relatório parcial a ser votado até o final de agosto.

Documentos

Em sua defesa, o ex-ministro da Saúde repetiu o que já havia declarado quando Maria da Penha foi presa pela Polícia Federal, no início de maio durante a Operação Sanguessuga. Saraiva Felipe apresentou documentos que mostram que a ex-assessora foi indicada ao cargo no ministério pelo PMDB. O pedido foi feito por José Divino e encaminhado a ele pelo líder em exercício da legenda na Câmara, Wilson Santiago (PB). O endosso do então ministro foi feito no documento, com a seguinte ordem: “Preciso atender, no cargo possível”.

Como deputado, Saraiva encaminhou emendas no valor de R$ 1 milhão para compra de ambulâncias. O ex-ministro disse que prestará os esclarecimentos, porque não está “acima da CPI”, mas acusou os deputados de fazerem perseguição eleitoral, pois teria sido ele o primeiro a ordenar as investigações. “Franz Varga, da Controladoria Geral da União me informou que a Polícia Federal estava fechando a investigação sobre compra de ambulâncias superfaturadas. Disse que deviam aprofundar a investigação. É uma inversão dos papéis, quem ajudou a elucidar o esquema, passa a ter que prestar esclarecimentos”, reclamou.

Do PMDB de Saraiva Felipe, 11 suspeitos de envolvimento com a máfia dos sanguessugas foram listados entre os 90 investigados pela comissão. Mais uma vez, os partidos da base governista e envolvidos com o escândalo do mensalão, lideram a lista, caso do PL (18 suspeitos), PTB (17) e PP (16). Do total de 90 investigados, 57 enfrentam inquéritos no Supremo Tribunal Federal (STF).

Sob suspeita

18 – PL

Almeida de Jesus (CE)

Amauri Gasques (SP)

Carlos Nader (RJ)

Coronel Alves (AP)

Heleno Silva (SE)

João Caldas (AL)

Jorge Pinheiro (DF)

Júnior Betão (AC)

Magno Malta (senador,ES)

Maurício Rabelo (TO)

Paulo Gouveia (RS)

Raimundo Santos (PA)

Reinaldo Betão (RJ)

Reinaldo Gripp (RJ)

Ricardo Rique (PB)

Wanderval Santos (SP)

Wellignton Fagundes (MT)

Wellington Roberto (PB) 17 – PTB

Alceste Almeida (RR)

Carlos Dunga (PB)

Cleuber Carneiro (MG)

Edna Macedo (SP)

Edir Oliveira (RS)

Eduardo Seabra (AP)

Elaine Costa (RJ)

Fernando Gonçalves (RJ)

Iris Simões (PR)

Jefferson Campos (SP)

Jonival Lucas Júnior (BA)

José Militão (MG)

Josué Bengston (PA)

Neuton Lima (SP)

Nilton Capixaba (RO)

Osmânio Pereira (MG)

Ricarte de Freitas (MT) 16 – PP

Agnaldo Muniz (RO)

Benedito de Lira (AL)

Benedito Dias (AP)

Cleonâncio Fonseca (SE)

Enivaldo Ribeiro (PB)

Érico Ribeiro (RS)

Feu Rosa (ES)

Ildeu Araújo (SP)

Irapuan Teixeira (SP)

Lino Rossi (MT)

Mário Negromonte (BA)

Nélio Dias (RN)

Nilton Baiano (ES)

Pedro Henry (MT)

Reginaldo Germano (BA)

Vanderlei Assis (SP) 11 – PMDB

Adelor Vieira (SC)

Almerinda de Carvalho (RJ)

Benjamin Maranhão (PB)

Cabo Júlio (MG)

Gilberto Nascimento (SP)

João Correia (AC)

João Magalhães (MG)

Marcelino Fraga (ES)

Ney Suassuna (senador,PB)

Saraiva Felipe (MG)

Teté Bezerra (MT)

11 – PFL Almir Moura (RJ)

Celcita Pinheiro (MT)

César Bandeira (MA)

Coriolano Sales (BA)

João Batista (SP)

Laura Carneiro (RJ)

Marcos Abramo (SP)

Marcos de Jesus (PE)

Paulo Magalhães (BA)

Robério Nunes (BA)

Zelinda Novaes (BA) 6 PSB

Dr. Ribamar Alves (MA)

Isaías Silvestre (MG)

João Mendes de Jesus (RJ)

Josias Quintal (RJ)

Marcondes Gadelha (PB)

Paulo Baltazar (RJ) 4 – PSDB

Eduardo Gomes (TO)

Helenildo Ribeiro (AL)

Itamar Serpa (RJ)

Paulo Feijó (RJ) 2 – PSC

Dr. Heleno (RJ)

Pastor Amarildo (TO) 2 – PRB

José Divino (RJ)

Vieira Reis (RJ) 2 – PT

João Grandão (MT)

Serys Slhessarenko (senadora,MT)

1 – PPS

Fernando Estima (SP)  

Corregedoria investiga quatro

O corregedor do Senado, Romeu Tuma (PFL-SP), defendeu a abertura de processo contra quatro senadores suspeitos de envolvimento com a máfia das sanguessugas. Ele pediu ontem à CPI dos Sanguessugas que lhe envie com urgência os depoimentos e as provas contra Magno Malta (PL-ES), Ney Suassuna (PMDB-PB) e Serys Slhessarenko (PT-MT), listados entre os 90 investigados da comissão. “A Corregedoria vai abrir investigação contra os parlamentares somente após comprovar a participação deles no esquema, com base em evidências e provas”, explicou Tuma, que tem trabalhado desde o mês passado na coleta de provas.

No caso de Malta, pesa contra ele a denúncia de que usou um carro da marca Fiat da Planam, supostamente entregue como pagamento pela apresentação de emendas. Em nota divulgada ontem, o senador confirmou ter usado o veículo, mas se disse inocente e afirmou que o veículo foi um empréstimo do deputado Lino Rossi (PP-MT) e não propina. Assim como Malta, Rossi é um dos 90 investigados pela CPI. “Eu considero que no caso de Magno Malta já há elementos para se encaminhar para o Conselho de Ética. Não é possível que alguém utilize um veículo de uma empresa, quanto mais da Planam, que era uma quadrilha. Não há justificativa”, concordou o presidente da CPI, deputado Antônio Carlos Biscaia (PT-RJ).

Tuma estuda ainda abrir um quarto processo. Seria contra Sibá Machado (PT-AC). O senador é acusado de ter infiltrado um assessor de Serys Slhessarenko numa reunião secreta da CPI que ouviu o depoimento do empresário Darci Vedoin, sócio da Planam, em audiência realizada em Cuiabá. Romeu Tuma defendeu que os integrantes da CPI ingressem na Corregedoria com uma representação contra Sibá. Em sua defesa, o senador do Acre alegou que a reunião na capital mato-grossense era reservada e não secreta e, portanto, não haveria problema de um servidor da Casa acompanhar a sessão. (MR)  

Gadelha se afasta

O deputado Marcondes Gadelha (PSB-PB) pediu ontem para se afastar da CPI dos Sanguessugas. Ele apareceu entre os suspeitos de envolvimento com a quadrilha acusada de fraudar a compra de ambulâncias, segundo a lista de investigados divulgada ontem pela comissão. Antes de anunciar sua saída, ele disse que vai provar aos colegas que as acusações contra ele são infundadas.

Gadelha foi citado pelo empresário Luiz Antônio Vedoin, chefe da quadrilha, em depoimento à Justiça Federal de Mato Grosso. Luiz Antônio afirmou que o deputado estaria entre os parlamentares com os quais negociou. Ao saber dessa informação, o presidente da CPI, deputado Antônio Carlos Biscaia (PT-RJ), defendeu o afastamento do parlamentar.

Resta agora à CPI analisar a situação do senador Jonas Pinheiro (PFL-MT), outro integrante da comissão. Luiz Antônio afirmou que teria também negociado emendas ao Orçamento com a mulher de Pinheiro, deputada Celcita Pinheiro (PFL-MT), que teve o nome incluído na lista dos 90 investigados pelo Congresso. (MR) 

Marcelo Rocha do Correio Braziliense