Companhia também fará viagens extras para que brasileiros no exterior com dificuldades para obter passagens voltem ao país

Com ultimato de agência de aviação, empresa divulga lista de destinos em que volta a atuar; no Brasil, são só 5, além da ponte Rio-SP

Pressionada com o ultimato da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), a Varig divulgou a lista dos destinos que voltará a operar. A agência havia ameaçado escolher as rotas por conta própria caso a Varig não apresentasse sua própria lista.

Na prática, o número de destinos ainda é pequeno. No mercado doméstico a Varig faz vôos da ponte aérea Rio-São Paulo, para Porto Alegre, Salvador, Recife, Fortaleza e Manaus. Para o exterior, a Varig vai voar para Frankfurt e Buenos Aires.

Para atender a demanda de brasileiros que estão no exterior e que encontram dificuldades para voltar ao Brasil, foi definido que a Varig realizará vôos extras dentro do plano de contingência da Anac.

O plano de contingência, válido até 31 de julho, inclui ainda vôos para Londres, Caracas, Miami, Nova York, Lima, Santiago, Paris e Copenhague.

“Surgiram algumas emergências no exterior. A Varig vai trazer 135 crianças que estão em Copenhague em vôos nos dias 28 e 30 de julho”, disse Leur Lomanto, diretor da Anac. Segundo a agência, a Varig informou que está esperando para as próximas horas a negociação com arrendadores de aeronaves para realizar os vôos.

Durante esse período, a companhia vai continuar as negociações com as empresas de leasing. “Iniciamos o restabelecimento dos créditos com alguns arrendadores, que alugam aviões à companhia. Além disso, estamos mantendo negociações com as empresas de leasing para aumentar a frota atual e retomar vôos que foram suspensos temporariamente”, afirmou Marco Antonio Audi, conselheiro da VarigLog.

As empresas de leasing estão impondo condições para que os aviões continuem à disposição da Varig. Algumas exigem que os novos donos paguem dívidas anteriores. A Varig conseguiu ontem ampliar a frota para oito aviões com mais dois MD-11.

Segundo Lomanto, a agência está tomando as medidas necessárias para que os passageiros sejam atendidos. O diretor refutou as críticas de que falta à agência postura mais incisiva para obrigar a Varig a voar. “Não adianta cobrar multa. O que nós precisamos é solucionar o problema. Essa malha vai melhorar bastante a situação, e as empresas congêneres vão continuar a aceitar os bilhetes.”

A Varig afirmou que abriu linhas de crédito com empresas aéreas estrangeiras e nacionais para manter a aceitação das passagens endossadas pela companhia. “Reconhecemos o desconforto que os passageiros da Varig passaram, mas todos podem ter certeza de que estamos trabalhando firmemente e com rapidez para solucionar os problemas”, disse o presidente da Varig, Marcelo Bottini.

Na avaliação de Paulo Sampaio, consultor em aviação, a nova Varig frustrou as expectativas dos consumidores. “Esse grupo vai ter muita dificuldade para se impor. Os novos donos tomaram medidas arbitrárias que têm impacto negativo junto aos clientes”, disse. Segundo ele, a VarigLog não respeitou os procedimentos da Anac e não apresentou pedido à Comclar (Comissão de Coordenação de Linhas Aéreas), que já avalia os pedidos de alterações de horários e rotas na Anac.

Para Márcia Christina Oliveira, técnica do Procon, os passageiros que se sentirem lesados devem pressionar não só a Varig como à Anac.

Empresa poderá ser multada em até R$ 3,2 milhões, afirma o Procon-SO Procon-SP pretende abrir um processo administrativo contra a Varig em razão dos cancelamentos de vôos. Após fiscalização na tarde de segunda-feira, foram verificados cancelamentos de 11 vôos -sete vôos nacionais e quatro vôos internacionais. A empresa pode ser multada em valores de R$ 212 a R$ 3,192 milhões.

De acordo com o Procon, a Varig infringiu o artigo 48 do Código de Defesa do Consumidor, referente a descumprimento de contrato. Segundo Joung Kim, diretora de fiscalização, após a abertura do processo, a Varig terá a chance de se defender e pode ter uma multa definida com base na receita mensal da companhia.

“A passagem aérea é um vínculo que se criou com o cliente, a Varig não pode simplesmente cancelar os vôos”, disse Kim. Segundo a diretora, a quantidade de cancelamentos não importa, e sim o descumprimento do contrato.

Durante a inspeção, foram cancelados vôos para Rio de Janeiro, Salvador, Natal, Fortaleza, Belo Horizonte, Manaus, Porto Alegre, Santiago, Montevidéu, Buenos Aires e Madri.

Para Márcia Christina Oliveira, técnica do Procon, o desempenho da companhia após a venda frustrou expectativas. “Imaginávamos que a empresa resolveria aos poucos os problemas, mas não foi o que aconteceu. O consumidor está como bola de pingue-pongue, não sabe o que fazer”, disse. Segundo a técnica, o consumidor deve cobrar providências da Varig e da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil). Ela afirmou que cabe à agência adotar uma atitude mais enérgica para obrigar a Varig a cumprir os vôos.

O Procon disse que pretende continuar acompanhando a situação dos clientes da Varig enquanto os atrasos e os cancelamentos persistirem.

JANAINA LAGE e CLARICE SPITZ

Folha de S. Paulo