Um casarão que já abrigou presos políticos, o ex-juiz Nicolau dos Santos Neto e até o mafioso italiano Tommaso Buscetta pode se tornar um museu de arquitetura no bairro de Higienópolis, em São Paulo.

O imóvel, localizado na esquina das ruas Piauí e Itacolomi, está sem uso desde que a Polícia Federal se mudou para a rua Hugo D’Ântola, na Lapa, em 2003. Ali funcionava o Dops (Departamento de Ordem Política e Social) e a Custódia da PF.

O Conpresp (conselho municipal do patrimônio histórico) abriu estudo de tombamento do prédio em 2004 e, agora, analisa se determinará sua proteção definitiva. “O casarão é importante por ser um remanescente da primeira ocupação de Higienópolis”, afirma o presidente do conselho, José Eduardo Lefèvre.

Segundo ele, há a intenção de que o casarão se torne a sede de um museu de arquitetura. “A idéia é que esse espaço concentre plantas e maquetes de projetos. Mas o estudo está em fase embrionária”, diz Lefèvre, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP.

A casa, pintada nas cores azul e branca e adornada internamente com vitrais, foi construída no início do século 20 e pertenceu à família do ex-presidente Rodrigues Alves.

Vigias que trabalham no local dizem que o prédio necessita de reforma –há problemas no piso interno, no telhado e, conseqüentemente, goteiras. Do lado de fora, são visíveis apenas algumas rachaduras e desgastes na pintura, principalmente na parte do alto do edifício.

Para a historiadora Maria Cecília Naclério Homem, autora de livro sobre Higienópolis e sobre as formas urbanas de morar da elite cafeeira, o casarão poderia também se tornar um “museu do palacete”.

“O imóvel repete o tipo de planta que caracterizou os palacetes, com recuo das divisas do lote, construção em meio a jardim, gradis de ferro. Dentro, é dividido em três partes, a zona social na frente, nos fundos os serviços, com quintal e horta, e, em cima, a área de repouso”, afirma a historiadora.

Ela sugere que o casarão seja mobiliado a rigor –com móveis coloniais e franceses (em estilo Luís 15 e Luís 16)– para que as pessoas da cidade saibam como se vivia na época.

Apesar de o prédio pertencer ao INSS –que vendeu o casarão à Encol em 1990, mas o retomou em razão de dívidas– é a PF que ainda mantém a vigilância do local, feita dia e noite por seguranças privados.

O INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) não revela que destino pretende dar ao casarão e afirmou que pode vender o imóvel “no tempo que achar oportuno”. Qualquer negociação, entretanto, terá de ser feita por licitação.

AFRA BALAZINA

da Folha de S.Paulo