Greve causa desconforto e sofrimento, mas é um legítimo instrumento reivindicatório em uma democracia. Mesmo assim, os grevistas são mal vistos pela sociedade. Tudo que altera a rotina não é bem assimilado e nada muda mais o rotineiro do que uma greve prolongada. É importante lembrar que em uma ditadura o primeiro direito a ser confiscado é o de fazer greve.

Greves permitem observar o que há de melhor e pior nos seres humanos (animais não fazem greve, ela é inerente aos que raciocinam). O melhor é a solidariedade, a união, a organização e a capacidade de superar possíveis resultados inesperáveis. O pior é o egoísmo e o oportunismo que se manifesta nos que “furam” a greve, mas querem se beneficiar dos resultados positivos, quando alcançados. Tenho certeza de que o grevista é a maior vítima de uma greve. Além do estresse pela incerteza dos resultados, há a possibilidade de desconto dos dias parados (que muitas vezes anula os benefícios alcançados) e a certeza de trabalho em dobro ao término dela. Um grevista é sempre a primeira opção em se tratando de redução do quadro funcional. Aos fura greves, os benefícios são tentadores: não precisam recuperar dias parados, não há risco de demissão e, caso o movimento seja vitorioso, os ganhos serão estendidos a eles. Por isso, eu aponto um único lado negativo das greves: por beneficiar indiscriminadamente aos que corajosamente evoluem para borboletas e aos que covardemente, aceitam a condição de lagarta. A lei deveria mudar, garantindo que as conquistas dos grevistas fossem apenas deles. Os demais receberiam apenas o que os patrões oferecem e que de bom grado eles aceitam, pois se assim não fossem, eles também se rebelariam. É assim nas greves de professores, bancários, policiais, profissionais do meio ambiente ou qualquer categoria profissional em que uma parcela deles não sabe a diferença entre existir e viver. Exalto a coragem dos que arriscam. Deploro a vileza dos que fazem da acomodação uma maneira de auferir lucros indevidos. Aos que ganham asas, a certeza de que vistas do alto, as lagartas são ainda menores do que parecem.

Da coluna de Renato Lauermann

Fonte: Asibama