O empresário Abel Pereira disse em depoimento à Polícia Federal que a família Vedoin, que chefiaria o esquema dos sanguessugas, ofereceu-lhe um dossiê que comprometeria o senador Aloizio Mercadante (PT), candidato derrotado ao governo de São Paulo. Abel, ligado ao ex-ministro da Saúde Barjas Negri (PSDB), também é investigado por suspeita de envolvimento com a máfia. A Planam, empresa da família Vedoin, vendia ambulâncias superfaturadas a prefeituras e pagava propina a parlamentares que faziam emendas ao Orçamento da União.

Abel, segundo depoimentos de acusados de chefiar o esquema, teria recebido propina para conseguir liberação de recursos do Ministério da Saúde para a Planam, durante a gestão de Barjas Negri, no governo de Fernando Henrique Cardoso. “Segundo Abel, Vedoin teria dito que poderia, com esses documentos, fazer oscilar em cinco pontos qualquer eleição e que, nos próximos dias, daria uma entrevista a uma revista onde demonstraria o poder de fogo dos documentos”, contou o advogado Eduardo Siqueira Rodrigues.

O advogado de Abel disse, à saída do depoimento de seu cliente, que ele teria sido “usado como isca o tempo todo”. Já Abel afirmou a jornalistas que estaria disposto a passar por uma acareação com os Vedoin.

Ainda de acordo com o advogado, Abel disse ter sido contactado três vezes pelos Vedoin, que diziam ter documentos que comprovariam irregularidades nas liberações de emendas de Mercadante. O empresário disse que os encontros não têm qualquer relação com o dossiê contra candidatos tucanos, como José Serra, governador eleito de São Paulo.

Segundo Rodrigues, seu cliente disse que o primeiro encontro ocorreu no Shopping Iguatemi, em São Paulo, o segundo, num hotel de Cuiabá, e o terceiro, com o empresário Ronildo Medeiros, sócio dos Vedoin, teria ocorrido próximo ao prédio da Polícia Federal na capital do Mato Grosso. Abel Pereira disse que no segundo encontro percebeu que estava sendo filmado e deu por encerrada a conversa. Segundo ele, Ronildo foi ao terceiro encontro apenas para explicar a ausência de Luiz Antônio Vedoin.

Abel disse que na conversa não tratou de valores, e que teria sido procurado apenas por ser amigo de Barjas Negri, hoje prefeito de Piracicaba. Segundo ele, os Vedoin o procuraram porque imaginaram que poderia ter acesso à cúpula do PSDB para oferecer o dossiê contra a Mercadante. Abel disse que não demonstrou interesse na compra do dossiê, embora tenha se encontrado com o grupo três vezes.

No depoimento na PF, Abel Pereira disse que na época em que Barjas Negri era ministro (em 2002), não o via há cinco anos, mas mesmo assim conseguiu marcar, em dez dias, uma audiência para o prefeito de Jaciara (MT), Valdizete Nogueira, para a construção de um hospital. Abel Pereira venceu a licitação do hospital, mas repassou a obra para outra empresa.

Na semana passada, dois depoimentos complicaram a situação do empreiteiro. Ronildo Medeiros, que criou algumas empresas para dar cobertura à Planam nas licitações dirigidas, disse ao juiz da 2ª Vara Federal, Jefferson Schneider, que Abel recebia 6,5% de propina para cada liberação de verbas do Ministério da Saúde que conseguia. O dinheiro, segundo Medeiros, era depositado em empresas indicadas por Abel.

Na sexta-feira, Darci Vedoin, dono da Planam, voltou a acusar o amigo do ex-ministro tucano de receber propina de sua empresa. O filho de Darci, Luiz Antonio Vedoin, também já havia implicado Abel na rede dos sanguessugas. Luiz Antonio entregou à Justiça, no dia 14 de setembro, comprovantes de depósitos e cópias de nove cheques, totalizando R$ 421,2 mil, que correspondiam à propina paga a Abel. Três deles (de R$ 30 mil cada um) foram emitidos em janeiro de 2003; outros quatro (R$ 199 mil) em fevereiro; e mais dois, no valor de R$ 132,23 mil, em dezembro de 2003. Luiz Antonio disse que Abel conseguiu a liberação de R$ 3 milhões no Ministério da Saúde, no fim de 2002, devido à sua ligação com Barjas.

O empresário nega que tenha se beneficiado do esquema. Seu advogado declarou que Abel fez uma análise dos seus extratos bancários, dos de sua mulher e das empresas e não teria encontrado qualquer depósito suspeito.

Valor Econômico