O título pode parecer óbvio, apenas uma constatação. Mas ele se ampara em mudanças recentes e profundas ocorridas no papel da mulher na economia e na sociedade, confirmadas por pesquisas, levantamentos e estudos.

Durante séculos, as mulheres foram criadas para serem boas filhas, boas irmãs, boas esposas, boas mães, boas donas-de-casa. Sem abdicarem de atividades, funções e vantagens inerentes à condição feminina, deram a volta por cima.

Nas décadas de 70 e 80, as mais inquietas passaram a administrar negócios legados pelos pais – butiques, delicatessen, bombonniéres, lojas de louças. Alguma coisa de que pudessem ocupar-se. Logo, o que parecia passatempo virou algo muito sério. E empreendimentos de pequeno porte se transformaram em grandes empresas.

Hoje, o Brasil exibe um elenco numeroso de notáveis empreendedoras e executivas. Servem de modelo para as novas turmas formadas nas salas de MBAs – onde mulheres já são maioria. Aliás, é sobretudo na educação que notamos a forte presença feminina. Considerando números de 2003 do Censo da Educação Superior – realizado pelo Instituto de Pesquisa Educacionais Anísio Teixeira (Inep), orgão ligado ao Ministério da Educação – de todas as matrícula da educação superior, as mulheres já chegavam aos 56,4%, e eram 62,9% dos estudantes que concluíam os cursos.

Em avanços constantes, conquistaram ou ampliaram espaços nos Três Poderes. Há menos de 50 anos, não havia mulheres na cúpula do Judiciário. Hoje, a ministra Ellen Gracie Northfleet preside o Supremo Tribunal Federal (STF). A primeira senadora da República foi a amazonense Eunice Michillis, eleita pela antiga Arena, em 1978. Só então se constatou que não existiam banheiros femininos no Senado.

Alguns países antecipam o que logo ocorrerá no Brasil. O Chile elegeu Michelle Bachelet para a Presidência. A Alemanha é governada pela primeira-ministra Angela Merkel. Nos Estados Unidos, onde Condoleezza Rice é secretária de Estado, a senadora Hillary Clinton lidera as pesquisas sobre a sucessão de George Bush. Na França, Christine Lagarde tornou-se a primeira mulher a assumir o Ministério da Economia, Finanças e Emprego. Mais recentemente, a Índia elegeu a primeira mulher presidente da história, Pratibha Patil, justamente no marco do 60º aniversário da independência.

Esses exemplos são os traços mais vistosos do vasto painel que exibe a força crescente das mulheres. Um estudo patrocinado recentemente pelo Banco Itaú revelou que elas já detêm 50,2% dos cartões de crédito em circulação no Brasil – o equivalente a 45% do volume transacionado. Na área da Previdência, as mulheres representam 41% dos clientes dos planos, segundo dados da Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (Fenaprevi).

Entre os passageiros da ponte aérea Rio-São Paulo, elas nem chegavam a 10% em 1970. Hoje, são quase a metade; já superam os homens na compra de carros em certas montadoras instaladas no país. Marcas consideradas “masculinas” vêem crescer o numero de NFs emitidas com nomes femininos. Imagine-se agora o quanto elas influenciam as decisões do público masculino.

Formam a clientela majoritária no mercado de vinhos, viagens ou seguros. Numerosos hotéis reservam andares exclusivos para mulheres. Recentemente, a Gol contemplou-as com banheiros exclusivos nos aviões. Números e dados que reuni nos últimos anos exigiriam espaços imensos nesta publicação.

Sem manifestações pública, sem movimentos ruidosos, as mulheres têm conquistado, com determinação e competência, papéis de destaque em nossa sociedade. Contam com o bônus da sensibilidade, do bom senso, da paciência. E não carregam o ônus de terem sido “criadas para matar”. Não desejam vencer a qualquer custo, como a maioria dos homens. Conjugado com o famoso sexto sentido, isso faz a diferença.

Que as que já alcançaram sucesso sirvam de exemplo e inspiração para as que começam a trilhar seus caminhos.

E que todos meditemos sobre a interrogação que permanece: por que o mercado não presta a este público a merecidíssima atenção?

Artigo – Sérgio P. de Queiroz

Jornal do Brasil

10/9/2007