Suspeita é de uso de nome de terceiros sem consentimento; advogado nega

Documentos em poder da Polícia Federal revelam indícios de que o banqueiro Daniel Dantas, dono do Opportunity, teria acesso a um suposto esquema por meio do qual poderia abrir contas bancárias, no paraíso fiscal das Ilhas Cayman, em nome de terceiros, sem o conhecimento desses.

A documentação é parte de um processo judicial em tramitação na Corte Britânica, que em última instância arbitra as disputas travadas na Justiça de Cayman. No caso levado ao tribunal, o terceiro que alega ter tido conta aberta indevidamente é Luís Roberto Demarco, ex-sócio e hoje adversário de Daniel Dantas.

Consta dos papéis, como argumento de defesa de Dantas, que o banqueiro usaria de autorização verbal de clientes para abrir contas e movimentá-las. Seu advogado disse que a acusação é um “delírio”.

Os documentos foram encaminhados à PF na semana passada pelo jornalista Paulo Henrique Amorim. “Encaminhei ao dr. Paulo Lacerda [diretor-geral da PF] a documentação que tenho a respeito desse caso. Talvez seja convocado a depor sobre a matéria”, disse.

A documentação agora integra o inquérito por meio do qual a Polícia Federal busca os responsáveis pela confecção de um dossiê, divulgado pela revista “Veja”, que atribui a autoridades brasileiras contas bancárias no exterior.

Por meio de sua assessoria de imprensa, a PF informou que não comentaria o teor dos documentos recebidos.

O dossiê, que segundo policiais ouvidos pela Folha tem fortes indícios de falsificação, aponta como correntistas, além do próprio diretor-geral da PF, delegado Paulo Lacerda, o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, e até o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A PF apura possível participação da Kroll na elaboração do dossiê. Executivos da empresa prestaram depoimento e negaram qualquer envolvimento no caso.

Dantas também nega ter participado da operação que levou à produção do dossiê. O banqueiro diz ainda que não enviou o material à “Veja”.

Assim que tiver em mãos cópias do dossiê, a PF pretende acionar as autoridades estrangeiras a fim de checar a existência das contas imputadas às autoridades brasileiras. A documentação será encaminhada ao exterior por meio do DRCI (Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional).

Em nome de Daniel Dantas, o advogado Nélio Machado disse que atribui a existência dessa suposta documentação a “delírio, completamente inimaginável, das fontes, que não têm idoneidade”. Para Machado, as disputas judiciais que colocam Dantas de um lado e Demarco e Amorim de outro torna-os suspeitos para fazer acusações contra o banqueiro.

Machado disse estar fora do Rio de Janeiro, sede de seu escritório. “Tão logo retorne, vou tomar as providências cabíveis contra os dois”, disse.

ANDRÉA MICHAEL da Folha de S. Paulo