Entre os anos de 2006 e 2010, o então presidente Lula promoveu uma série de reformas que resultaram em ganhos salariais para o funcionalismo. Com a chegada de Dilma Roussef ao poder, o cenário mudou, e todos os servidores públicos ficaram insatisfeitos com as negociações intermináveis e os reajustes abaixo da inflação.

Justamente neste período, o SinpecPF lutava para fazer avançar o pleito de reestruturação, parado no Ministério do Planejamento há meses. Em protesto, a categoria já tinha paralisado atividades e usado camisetas com mensagens pedindo valorização, além de conversado com todas as autoridades possíveis. Mais uma vez, os ânimos começavam a ficar exaltados.

“Estávamos chegando ao mês de agosto, época crucial para as negociações, e o governo sinalizava com zero de reajuste”, afirmou a então presidente Leilane Ribeiro, em entrevista concedida em 2015 para a comunicação do SinpecPF. Várias categorias já haviam cruzado os braços, e os policiais federais anunciaram que seriam os próximos.

À época, o PECPF amargava quase nove anos sem concursos públicos e a ideia inicial do sindicato foi realizar uma manifestação chamando atenção para a falta de servidores. “O déficit era enorme e sabíamos que teríamos de compensar o menor número de colegas com mais criatividade em nossos protestos”, recorda Leilane.

Seguindo a cartilha do marketing de guerrilha, o sindicato realizou no dia 1º de agosto um ‘velaço’, no qual foram acesas 795 velas em plena Praça dos Três Poderes, cada uma simbolizando um cargo vago no PECPF. “A greve dos policiais estava começando e os jornais e blogueiros aproveitaram para dar grande destaque ao ‘velaço’. Ali tivemos certeza de que estávamos no caminho certo”. O movimento também acabou plantando a semente para o concurso autorizado no ano seguinte, realizado em fevereiro de 2014.

Aos poucos, todo o serviço público cruzava os braços em uma enorme greve geral. A vez do PECPF chegou no dia 15 de agosto, data em que a categoria deu início a segunda paralisação por tempo indeterminado de sua história.

O grande desafio dos administrativos foi fazer com que os pleitos da categoria obtivessem destaque em meio a tantas reivindicações simultâneas. Para efeito de comparação, basta lembrar que todo o funcionalismo estava parado, inclusive os policiais federais, que contavam com uma base quatro vezes maior que a do PECPF.

O primeiro grande ato da greve foi uma panfletagem no Aeroporto de Brasília, realizada no dia 16, simultânea a uma operação padrão realizada pelos policiais. “Demos nosso recado, mas a repercussão não foi boa e houve mais destaque para os policiais”, recorda o atual presidente do SinpecPF, João Luis Rodrigues Nunes, à época diretor de patrimônio do sindicato. “Daí decidimos atuar separadamente”.

A próxima ação foi arquitetada para ganhar as manchetes dos jornais: atear fogo nos acordos não cumpridos pelo governo em frente ao Palácio do Planalto. “Ao longo dos anos, o governo firmou diversos acordos para resolver a questão da reestruturação. Nenhum foi cumprido. Decidimos mostrar que a palavra do governo não tinha valor”, explica do diretor jurídico Cícero de Sousa, do comando da greve à época. O saldo da manifestação não poderia ter sido melhor: cobertura nos principais telejornais do país (incluindo o Jornal Nacional), capa do Correio Braziliense do dia seguinte e imagem da semana no Zero Hora (RS). Com esse ‘batismo de fogo’, a greve do SinpecPF ia se tornando, literalmente, a mais ‘quente’ do momento.

Em meio à greve generalizada, Dilma teria, segundo a imprensa, chamado um grupo de servidores de ‘sangue azul’, em função dos supostos altos salários. Entre esses servidores, os da Polícia Federal. Ocorre que, para ilustrar a fala da presidente da república, os veículos de imprensa recorreram a fotos da manifestação do SinpecPF. “Enxergamos uma nova oportunidade ali, na hora!”, lembrou Leilane. “Nossa próxima manifestação tinha de estar relacionada com o ‘sangue azul’”.

O sindicato então iniciou os planos para uma grande marcha até o Planejamento, realizada no dia 23. Foram impressos os contracheques de diversos colegas, destacando o tempo de serviço e a remuneração de cada um. Todos pintaram os rostos de azul, em alusão à declaração de Dilma. “Se tínhamos sangue-azul, queríamos reivindicar um salário à altura desse status”, argumentou Leilane, explicando o ato. O toque final foram cinco mil balões negros, cada um representando R$ 10 mil desperdiçados pela Polícia Federal com terceirização irregular e desvios de função de policiais federais. “Foi outro sucesso, com uma repercussão ainda maior do que a anterior!”, lembra João Luis. “Nunca vou esquecer o rosto das pessoas que estavam no Planejamento quando eles viram o tamanho da nossa marcha. Todos aplaudiram! Os policiais federais estavam lá e ficaram de queixo caído”, completa o atual presidente.

O termo ‘sangue-azul’ havia grudado na imprensa e o sindicato decidiu se aproveitar novamente disso em sua próxima manifestação. No dia 28, outra marcha, outros cinco mil balões, desta vez azuis, em movimento que foi batizado de ‘Jogando o sangue-azul para os ares’. A data final para as negociações estava se aproximando e o governo finalmente apresentou uma proposta: R$ 1000 para o nível superior; R$ 930 para o nível intermediário; R$ 660 para o nível auxiliar. Tudo em três parcelas anuais. Não era o que a categoria queria, mas a maioria decidiu aceitar para dar continuidade às negociações pela reestruturação. A greve terminou no dia 30, com saldo positivo. “Ao final, foi uma decisão acertada. Outras categorias seguiram em greve e não receberam nada melhor após meses de luta”, pondera João Luis.

No dia 31, a categoria se uniu no Na Hora da Rodoviária do Plano Piloto de Brasília para deflagrar a operação ‘Acertando os ponteiros’, que colocou a emissão de passaportes em dia após os atrasos da greve e criticou a terceirização existente no setor de emissão de passaportes.

Dias após a greve, o SinpecPF foi parabenizado pelo então secretário-geral da Condsef, Josemilton Costa, representante de 80% do funcionalismo federal. “Ele disse que fomos fundamentais para o governo decidir oferecer uma proposta, isso em razão da repercussão dos nossos movimentos. A greve foi geral, mas o SinpecPF foi um protagonista!”, comemorou Leilane à época.