O ano é 2005. Lula havia chegado ao poder há dois anos e as mudanças estruturais prometidas para a Polícia Federal ainda estavam aquém das necessidades da instituição. Para pressionar o governo, as categorias decidiram deixar diferenças históricas de lado e instituíram o Gerc (Grupo de Entidades Representativas de Classe) para negociar coletivamente.

Ocorre que, já naquela época, as negociações com o governo eram lentas e pouco frutíferas, o que fez com que a categoria policial decidisse por uma greve em junho de 2006. O movimento acabou surtindo efeito, e o governo reagiu oferecendo proposta salarial aos policiais que pôs fim à paralisação.

Para o PECPF, o cenário foi diferente. Embora a categoria tenha paralisado as atividades em conjunto com os policiais em diversas oportunidades, não houve proposta no sentido de melhorar a situação econômica dos administrativos, o que revoltou parte da categoria. O sentimento geral era de que os policiais haviam usado os administrativos e os deixado para trás após atingirem seus objetivos.

O processo negocial do Gerc acabou esquentando as primeiras eleições realizadas para o sindicato. Escolhida presidente interina no ato de fundação da entidade, Hélia Cassemiro decidiu se candidatar a reeleição, encabeçando a chapa ‘Democracia e Transparência’. Acabou vencedora do pleito, obtendo 489 votos em um processo marcado por forte disputa política. “Houve um desgaste muito grande, que deixou a categoria dividida”, recorda.

Se havia um sentimento que ainda unia os servidores administrativos, era o de indignação! A insatisfação com o governo era tangível e cresciam os pedidos para que a diretoria do SinpecPF deflagrasse greve geral da categoria.

Em abril de 2007, a pressão tornou-se insustentável e a diretoria do sindicato convocou Assembleia Geral Extraordinária (AGE) para decidir sobre a paralisação das atividades. “Ainda tentamos adiar o movimento, buscando avançar na mesa de negociações com o governo, mas já não havia mais como acalmar os ânimos. A greve era necessária”, avalia Hélia.

Antes da greve de fato, houve uma série de paralisações. A mais emblemática de todas ocorreu no dia 24 de abril, com uma história marcha que saiu do Edifício Sede da Polícia Federal para tomar a Esplanada dos Ministérios. Segundo estimativas do sindicato, 800 administrativos participaram do ato.

“A categoria estava com os quadros renovados por causa do concurso de 2004 e todos queriam fazer a diferença”, recorda o atual presidente, João Luis Rodrigues Nunes, que durante a greve ficou responsável por mobilizar os servidores do Setor Policial Sul. “Éramos a turma do barulho, cheios de cornetas, buzinas e tudo mais que ajudasse a acabar com a paz de quem continuava trabalhando”, recorda aos risos.

A histórica marcha ascendeu os ânimos da categoria e, de maio até setembro, o sindicato deflagrou uma série de paralisações com duração variada entre 24h e 72h. Como o governo não acenou com nenhuma melhoria, a categoria decidiu estender o movimento por tempo indeterminado a partir do dia 25 de setembro.

“Costumo dizer que uma greve é como uma escalada”, filosofa Hélia. “Atingimos o cume muito rápido, e o nosso desafio foi manter o movimento ali, naquele platô”. Para tanto, a cada dia a diretoria propunha uma atividade diferente. Houve aulas de educação física, apresentações de dança, escola de samba, capoeira. Tudo para segurar o ânimo dos grevistas.

A greve também foi muito forte nos estados, paralisando quase que por completo as atividades de logística da Polícia Federal. Iniciativas criativas foram colocadas em prática pelos representantes estaduais. Outro dado importante foi o apoio dos policiais federais, que chegaram inclusive a cruzar os braços em solidariedade aos administrativos no dia 18 de outubro.

A greve terminou no dia 8 de novembro, após o governo sinalizar acordo reajustando a remuneração da categoria. “Não foi o valor de que gostaríamos, mas foi o melhor possível naquele momento. A greve estava perdendo força e asseguramos a melhoria salarial”, explica Hélia.

A greve de 2007 durou 45 dias, mas a luta do SinpecPF é permanente desde sua criação.