Autoridades do setor aéreo garantem que medidas foram adotadas para evitar contratempos nos feriados de final de ano, durante audiência em que Waldir Pires reclamou publicamente do salário de ministro

Durante audiência pública realizada na Câmara dos Deputados para discutir a crise na aviação, autoridades responsáveis pelo setor procuraram ontem tranqüilizar quem programou viagens aéreas para os feriados de final de ano. Apesar de reconhecer que a situação “ainda não será a ideal”, o presidente da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Milton Zuanazzi, assegurou que foram tomadas todas as providências para evitar problemas. Da parte dos controladores, o presidente do Sindicato Nacional dos Trabalhadores de Proteção ao Vôo, Jorge Botelho, afirmou que não está sendo planejada operação-padrão nos aeroportos ou qualquer outro tipo de mobilização para prejudicar os passageiros.

Em meio aos debates, em que foram cobrados mais recursos para o controle de tráfego aéreo, o ministro da Defesa, Waldir Pires, voltou a negar que a crise tenha sido provocada por contingenciamento de recursos, mas reconheceu que o problema salarial dos controladores de vôo é grave. Alvo de muitas críticas e pressão, Pires acabou reclamando do próprio salário, assinalando que, descontado o Imposto de Renda retido na fonte, recebe menos de R$ 6 mil por mês. “O senhor tem todo o apoio dos deputados ao seu pedido público de aumento”, comentou o deputado Marcelo Guimarães (PFL-BA), que presidia a reunião.

Encerrada a audiência, Waldir Pires fez questão de esclarecer que não estava reivindicando um reajuste salarial, mas apenas apontando incongruências. “Estamos vivendo uma situação de salários que é uma coisa do nosso tempo. No serviço público, há salários que são incompatíveis. Você se joga e faz porque tem na alma a vontade de fazer isso. Também acho que os controladores têm que ter melhores salários, mas um ministro de Estado tem salário muito inadequado”, desabafou, acrescentando: “Não estou reivindicando coisa nenhuma”.

Aquartelamento

A possibilidade de aquartelamento dos controladores de vôo no Natal e no réveillon, diante de eventual crise, nem chegou a ser discutida durante a audiência. Empenhado em transmitir um clima de normalidade, o comandante da Aeronáutica, brigadeiro Luiz Carlos Bueno, disse que não há ameaças de paralisação por parte dos operadores. “Estão espalhando uma onda que não existe. (Vôos) Podem atrasar pelo número de passageiros, mas não por causa do controle aéreo, afirmou o comandante, que chegou a se irritar durante o encontro.

O deputado José Carlos Araújo (PL-BA) afirmou que gostaria de ouvir dos controladores previsões tão otimistas. Em tom exaltado, o brigadeiro Bueno reagiu: “Posso responder pelos meus controladores militares. Não há nenhuma intenção, pretensão ou idéia de prejudicar o controle de vôo no fim de ano. Tenho tido contato freqüente com eles”.

Embora enfatizando que problemas de falta de pessoal e equipamento não foram resolvidos, o presidente do sindicato dos controladores disse que a categoria não daria um passo em falso. “Nós não iríamos criar problemas para nós mesmos”, disse Botelho. “Se algum serviço de inteligência perceber que pode haver isso (operação-padrão), peço que nos conte. Os problemas que poderão advir podem ser causados por questões normais do acúmulo do tráfego aéreo, mas não por operação-padrão”, assinalou.

Correio Braziliense