O resultado das investigações do escândalo do dossiê, montado por petistas para prejudicar o governador eleito de São Paulo, José Serra (PSDB), só será divulgado após o segundo turno da eleição. A informação foi dada ontem pelo ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, durante reunião na residência do ministro das Comunicações, Hélio Costa. Thomaz Bastos alegou, segundo relataram ao Valor participantes do encontro, que a Polícia Federal está tendo dificuldades para descobrir a origem dos R$ 1,7 milhão apreendidos durante a prisão de petistas envolvidos no caso.

“Não há previsão de quando vai terminar a apuração do dossiê”, teria advertido o ministro da Justiça. “A investigação só acabará antes da eleição se alguém contar a verdade espontaneamente”, disse outro ministro. A reunião foi convocada pela ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, com o objetivo de discutir a estratégia do governo para a campanha do presidente Lula. Dezessete dos 34 ministros participaram do encontro.

Na avaliação de alguns ministros, a notícia dada por Thomaz Bastos é preocupante porque significa que o governo ficará “sangrando” até o segundo turno. Outros acham que a descoberta e divulgação da verdade, neste momento, prejudicaria Lula, mesmo que não se comprovasse a sua participação no episódio. Na avaliação de alguns ministros, o presidente perdeu votos na classe média porque as pessoas esperavam que ele desse explicações sobre o escândalo no debate da TV Globo. “A explicação não veio e o presidente não compareceu ao debate”, observou um ministro.

A disposição para a campanha do segundo turno seria outra. Segundo Dilma, Lula está disposto a participar de todos os debates. Além disso, vai declarar que os petistas envolvidos no dossiê serão punidos. Dilma pediu que cada ministro fizesse uma avaliação da situação eleitoral em seus Estados. Depois, deu duas orientações. A primeira é que eles aproveitem as oportunidades para esclarecer, publicamente, o caso do dossiê, apresentando as explicações oficiais. A segunda recomendação é para que divulguem as ações de suas Pastas, comparando o desempenho da gestão atual com a do governo anterior.

O ministro da articulação política, Tarso Genro, fez um balanço das ações que a campanha vem empreendendo para conquistar apoios e votos. Contou, por exemplo, que Lula está tentando se aproximar do PDT, no Rio Grande do Sul, por meio de negociação com o deputado Alceu Colares. No Rio, o aliado preferencial é o senador Sérgio Cabral, candidato do PMDB ao governo do Estado.

O ministro do Turismo, Walfrido dos Mares Guia, fez um relato sobre Minas Gerais, onde Lula ganhou de Alckmin no primeiro turno por diferença de dez pontos percentuais. Minas é uma das apostas do candidato do PSDB para derrotar Lula. Ele conta com o empenho do tucano Aécio Neves, reeleito governador no primeiro turno, com 75% dos votos. Walfrido, que é mineiro e aliado de Aécio em Minas Gerais, acredita que o governador “não mergulhará de cabeça” na campanha de Alckmin. Haveria dois indícios disso. O primeiro é o fato de ele ter se licenciado do cargo até o próximo dia 8. O segundo é que ele teria indicado um representante para a campanha tucana “sem representatividade” e força no Estado.

Os ministros avaliaram também que, apesar de Lula ter tido no primeiro turno seu melhor desempenho entre os pobres, a campanha deveria tentar ampliar a votação nessa faixa da população. Um exemplo citado foi Caetés, distrito de Garanhuns, em Pernambuco, onde Lula nasceu. Lá, houve cerca de quatro mil votos nulos. Um ministro sugeriu que se faça uma campanha massiva para ensinar os eleitores a votar em Lula.

Tratada por alguns colegas como “a comandante”, Dilma determinou que a reunião tivesse caráter confidencial. Ela recomendou que os ministros usassem carros particulares para chegar ao local. Pelo menos um ministro – Jorge Hage, da Controladoria-Geral da União – usou carro oficial. A gafe do dia ficou por conta do ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan. Quando comentou as chances eleitorais de Lula, Furlan fez uma analogia entre os índices de popularidade do presidente e de seu oponente e a colisão entre um boeing da Gol e um jato Legacy, da Embraer, que resultou na morte de 155 pessoas na última sexta-feira. Ele disse que é preciso que as linhas de popularidade não se encontrem.

Cristiano Romero

Valor Econômico