Relatório diz que parte de propina seria destinada ao ex-tesoureiro do PT

Relatório reservado da Polícia Federal sobre a segunda parte da Operação Vampiro registra nove ligações entre o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares e o lobista Laerte de Arruda Correa Júnior, um dos principais integrantes da organização acusada de desviar R$2 bilhões do Ministério da Saúde. A PF sustenta que Laerte recebeu R$120 mil para facilitar pagamento de dívida de R$15 milhões do ministério com o laboratório Novo Nordisk. Parte seria destinada a campanhas políticas de Delúbio.

A polícia partiu da análise de ligações telefônicas entre integrantes da máfia do sangue. Em conversa com o empresário Jaisler Jabour, representante da Novo Nordisk, Laerte confirma o recebimento de uma remessa de R$120 mil, parte de uma comissão liberada pela multinacional. Em diálogo em 2 de fevereiro de 2004, pergunta a Eduardo Pedrosa, outro lobista, “pelo complemento financeiro do Deo”. Segundo a PF, Deo seria Delúbio.

Pelas investigações da PF, Jabour repassou R$723 mil a Pedrosa para que fizesse pagamentos a pessoas ligadas a Delúbio e a ao ex-ministro da Saúde Humberto Costa. O dinheiro seria uma gratificação pela decisão do ministério de liberar o pagamento de R$15 milhões a Novo Nordisk, dívida relativa a um contrato para a compra do hemoderivado Novo Seven e insulina. Os detalhes da transação estão registrados numa conversa entre Correa Júnior e Jabour no dia 21 de janeiro de 2004.

Primeiro os dois “revelam como a comissão paga do Novo Nordisk foi dividida entre os dois grupos”, de Delúbio e Humberto Costa. “No final da conversa, depois de desacordo sobre o valor da comissão que deveria ser entregue, Laerte e Jaisler combinaram que parte do dinheiro destinado ao grupo do tesoureiro do PT seria pago dia 28 de janeiro de 2004, em Brasília”. Os R$723,8 mil correspondem a 6% do valor líquido dos R$15 milhões pagos pelo ministério ao laboratório, descontando o imposto. A polícia informa que o dinheiro foi sacado na casa de câmbio Dunes Non Stop no Rio e levado a Brasília.

O grupo de Delúbio seria formado por Correa Júnior, o ex-diretor do Fundo Nacional de Saúde Reginaldo Muniz e o ex-secretário de Assuntos Administrativos Ivan Coelho. Na turma de Humberto Costa estariam o ex-coordenador-geral de Logística Luiz Cláudio Gomes e os empresários Francisco Danúbio Honorato e Marcos Chaim Jorge, entre outros. Os investigadores sustentam que o suposto grupo de Delúbio amealhou R$15 milhões em intermediações de negócios no Ministério da Saúde.

A PF apresenta vários indícios da proximidade entre Delúbio, então tesoureiro do PT, e o lobista. Segundo o relatório, só entre 14 de outubro de 2003 a 18 de fevereiro de 2004, Laerte e Delúbio trocaram nove ligações pelos telefones (11) 8114-6565 e (11) 9619-8996. Os vínculos estariam reforçados ainda em conversas de Correa Júnior. Numa delas, ele diz a Eduardo Pedrosa estar indo ao encontro de Delúbio no hotel Blue Tree, Brasília.

– Estou de stand by com Delúbio, tô indo pro hotel – diz em 4 de fevereiro de 2004.

Em depoimento à PF dia 22 do mês passado, Delúbio negou envolvimento com os lobistas. Ele alega que Correa Júnior era apenas um representante de uma das 14 mil empresas que o procuraram em busca de doações para campanhas eleitorais.

A PF indiciou Delúbio, Costa e mais 40 servidores públicos, lobistas e empresários por formação de quadrilha e corrupção, entre outros crimes.

O Globo