A Polícia Federal investiga a utilização de aviões de pequeno porte no escândalo do dossiê. Um deles teria sido alugado para transportar o dinheiro arrecadado por petistas na Baixada Fluminense para a compra do dossiê contra tucanos do Rio de Janeiro para São Paulo. A aeronave teria partido de uma pista de decolagem em Nova Iguaçu, endereço da Vicatur Câmbio e Turismo Ltda., e pousado no Aeroporto Campo de Marte, em São Paulo. A PF suspeita que veio da Vicatur a maior parte dos US$ 248,8 mil que seriam usados na negociação.

Os responsáveis pelo inquérito também apuram uma informação de que o empreiteiro Abel Pereira, amigo e ex-assessor do tucano Barjas Negri, sucessor de José Serra no Ministério da Saúde, estaria providenciando o aluguel de um avião também em Campo de Marte para levar a Cuiabá o dinheiro que seria usado para “comprar” o silêncio de Luiz Antônio Vedoin. O sócio da Planam negociava com os petistas as informações que comprometeriam os tucanos com a máfia dos sanguessugas.

No caso do avião que teria atendido os petistas, a PF tenta confirmar há pelo menos uma semana detalhes sobre a realização do vôo. Ela persegue uma denúncia de que a aeronave de pequeno porte fez a viagem, com três pessoas à bordo, três dias antes da apreensão dos R$ 1,75 milhão em poder de Valdebran Padilha e Gedimar Passos. Um dos policiais envolvidos na investigação disse ontem ao Correio, em Cuiabá, que eles investigam três possíveis passageiros: o próprio Gedimar, o empresário Fernando Ribas, dono da Vicatur, e Hamilton Lacerda, apontado como o “homem da mala”.

A suspeita de que um avião de pequeno porte foi alugado para transferir do Rio para São Paulo parte do dinheiro que seria usado na transação do dossiê ganhou força por causa das revelações dos últimos dias. Primeiro, a polícia levantou indícios de que R$ 5 mil dos R$ 1,1 milhão que estavam com Valdebran e Gedimar passaram por bancas do jogo do bicho em Caxias e Campo Grande, ambos na Baixada Fluminense. No último fim de semana, surgiu a informação de que uma parte significativa dos dólares teriam sido adquiridos na Vicatur, uma casa de câmbio com sede em Nova Iguaçu.

Máfia

Transportar o dinheiro para outra cidade, no caso São Paulo, ou mesmo Cuiabá, cidade onde mora o empresário Luiz Antônio Vedoin — apontado como líder dos sanguessugas e detentor de informações que supostamente comprometeriam os tucanos com a máfia das ambulâncias — seria uma operação arriscada se fosse executada em vôo de carreira ou mesmo por via terrestre. A melhor saída, acredita os investigadores, seria alugar um avião de pequeno porte por causa da segurança.

A PF, porém, encontra dificuldade para avançar nessa linha de investigação porque o aeroclube de Nova Iguaçu está inativo há pelo três anos e não há outras pistas para aviões na Baixada Fluminense. Já o serviço de tráfego aéreo do Aeroporto de Campo de Marte, em São Paulo, informou à polícia não ter condições de identificar pousos e decolagens sem o número de prefixo de aeronave. Ontem, em Cuiabá, o superintendente da PF no Mato Grosso, delegado Daniel Lorenz, confirmou a apuração sem revelar detalhes: “Essa é uma informação nova para a imprensa”.

O advogado Alberto Zacharias Toron, que defende Hamilton Lacerda, disse desconhecer a informação de que seu cliente teria trazido os R$ 1,7 milhão num vôo de Nova Iguaçu para São Paulo, no dia 12 de setembro, num avião Cessna, junto com Fernando Ribas Soares, um dos donos da Vicatur. “Fico perplexo com o fato de a PF vazar esse tipo de coisa. Nunca vi no inquérito essa informação”, reclamou o advogado.

Leonel Rocha, enviado especial a Cuiabá

Marcelo Rocha e Gilberto Nascimento

Do Correio Braziliense