O delegado Renato Sayão, responsável pela investigação do acidente com o Boeing da Gol, afirmou nesta terça-feira que diálogos entre pilotos na cabine do jato Legacy –que se chocou com o Boeing da Gol– apontam que o equipamento anticolisão do jato estava desligado.

A conversa, segundo o delegado da Polícia Federal, motivou o indiciamento dos pilotos Joseph Lepore e Jan Paladino no inquérito sobre a colisão que matou, em setembro passado, 154 pessoas que estavam no Boeing da Gol.

Sayão rebateu nota divulgada ontem pela empresa ExcelAire, dona do Legacy. Segundo a nota, “não havia nenhuma indicação na cabine ao longo do vôo que apontasse o não-funcionamento” dos equipamentos.

A ExcelAire informou que o diálogo dos pilotos publicado no final de semana pela revista “Veja” é formado por “trechos isolados” da conversa. Afirmou ainda que a imprensa se baseia em “especulações” na cobertura do caso.

“Os diálogos foram fundamentais para demonstrar que o equipamento [anticolisão] estava desligado. A verdade é que [a conversa] foi traduzida [no inquérito do caso] da forma como saiu na revista ‘Veja’. É a tradução fiel. ‘Off’, em inglês, é desligado, não existe outra tradução”, afirmou Sayão.

O trecho do diálogo, registrado após a batida com o Boeing, é o seguinte: “Cara, você está com o TCAS ligado?”, pergunta um piloto. A resposta: “É, o TCAS está desligado”.

TCAS é o sistema anticolisão de tráfego aéreo. Ele emite um alerta sonoro toda vez que outra aeronave é detectada na mesma aerovia.

No relatório parcial sobre o acidente, a PF diz que “os pilotos agiram com negligência quando voaram por mais de 50 minutos com o sistema anticolisão desligado até a colisão das aeronaves, sendo o equipamento ligado somente cerca de dois minutos após o choque, sendo então captado pelos radares”.

De acordo com a ExcelAire, os “pilotos não desligaram o transponder ou o sistema TCAS, seja intencional ou inadvertidamente”.

Conforme Sayão, haverá uma análise mais técnica. “A caixa-preta [do Legacy] pode ser melhor explorada na parte de dados que registram os eventos dentro da aeronave”, afirmou.

HUDSON CORRÊA

da Agência Folha, em Campo Grande