O “Globo” de hoje traz uma bela matéria de capa do caderno de Economia sobre a mudança na contabilidade do déficit da Previdência. Mas continua embarcando em alguns erros de enfoque e de números:

1. Compara a mudança contábil (de tirar das costas da Previdência gastos com aposentadoria rural e com isenções setoriais) a uma mera operação “tapa-buracos”. Não é. Ainda não caiu a ficha que despesa da Previdência vai direto para a conta de empregadores e empregados que contribuem para o INSS. Despesa que não é da Previdência vai para a conta do Tesouro. Ou seja, mexeu na conta do déficit, mexeu na definição de quem paga. Trata-se de mudança radical. Quase R$ 40 bi que, antes, seriam debitados à conta dos empregados e empregadores, comprometendo ainda mais o emprego formal, passam a ser déficit fiscal, compartilhado por todos os contribuintes.

2. Continua errando nos números. Se se retiram das costas da Previdência as aposentadorias rurais e as isenções para os diversos setores (Simples, filantrópicas etc.), o rombo efetivo da Previdência passa a ser de R$ 3,8 bi em 2006, e não R$ 24 bi como diz “O Globo”, nem R$ 13 bi, como insiste a “Folha”. Mudou totalmente o foco da discussão sobre o déficit da Previdência.

O Ministro da Previdência Nelson Machado é um craque que, apenas com o uso correto e adequado dos números, liquidou com a operação “delenda a Previdencia” e seu exército de especialistas em sofismas planilheiros.

Agora, já se pode começar a discutir a sério a questão do déficit da Previdência, que precisa ser enfrentado, sim, mas em bases honestas.

Luis Nassif