Ex-ministro de Fernando Henrique, e atual embaixador do Brasil na ONU, Ronaldo Sardenberg foi sondado para o cargo durante reunião com o presidente da República, no Planalto, na última terça-feira

Depois das reuniões com todos os partidos da coalizão governista, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva entrou na fase final da definição do novo ministério. Na terça-feira, durante audiência com o embaixador brasileiro nas Nações Unidas, Ronaldo Sardenberg, o presidente sondou-o sobre a possibilidade de assumir o Ministério da Defesa. O embaixador já está preparando sua mudança para o Brasil. A tendência é que a mudança de comando na Defesa seja anunciada na segunda quinzena de dezembro. O atual ministro, Waldir Pires, saiu queimado da crise no controle de tráfego aéreo, mas Lula quer poupá-lo do constrangimento de uma demissão isolada. Prefere envolvê-lo na mudança geral do ministério.

Sardenberg não é ligado a nenhum dos partidos que sustentam o governo Lula. Ele foi ministro no governo do tucano Fernando Henrique Cardoso e sempre teve grande trânsito com a cúpula do PSDB. Sua indicação para a pasta da defesa seria uma “saída técnica” para uma área extremamente complicada. No governo FHC, Sardenberg foi ministro da Ciência e Tecnologia e titular da Secretaria de Assuntos Estratégicos, por onde passaram assuntos que hoje percencem à pasta da Defesa. É um nome bem aceito entre os militares.

Lula já sinalizou para a manutenção de ministros que formam a espinha dorsal do governo, como Dilma Roussef (Casa Civil), Tarso Genro (Relações Institucionais) e Guido Mantega (Fazenda). Agora, começa a definir as pastas que não entrarão na negociação política com os partidos.

Na quarta-feira, Lula vai receber o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, para uma conversa sobre o futuro da pasta. Bastos já anunciou que vai deixar o cargo e encaminha com Lula a escolha de seu sucessor e do novo comandante da Polícia Federal. Para o ministério, o nome mais forte é o de Sepúlveda Pertence, hoje integrante do Supremo Tribunal Federal (STF). O ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, também é cogitado, mas Bastos prefere que seu sucessor não seja um político. A tese tem simpatia de Lula, que deseja ver a Justiça e especialmente a Polícia Federal continuarem o trabalho de combate ao crime organizado implantado nos últimos anos.

Lula esforçou-se para manter no governo o atual diretor da PF, Paulo Lacerda, mas ele já avisou que vai embora. O novo chefe da polícia deve ser escolhido dentro da equipe de Lacerda, antes mesmo que seja anunciado o novo ministro da Justiça.

Aliança

Desde que foi reeleito, Lula vem repetindo que não tem pressa para montar a nova equipe e que pode fazer o anúncio dos nomes escolhidos para o ministério só depois da posse, em 1º de janeiro. Ele não quer ser pressionado a decidir e planeja testar a fidelidade das bancadas aliadas no Congresso antes de distribuir cargos. Na semana passada, o governo ficou assustado com o grau de traição dos parlamentares durante a eleição do novo ministro do Tribunal de Contas da União (TCU). A base aliada fez uma votação prévia e indicou como candidato o petista Paulo Delgado. Na hora do voto secreto, em plenário, Delgado foi abandonado por boa parte dos aliados e acabou derrotado por Aroldo Cedraz, do PFL. O Palácio do Planalto teme que a traição seja repetida na eleição para presidente da Câmara, em fevereiro.

O presidente vai tentar unificar sua bancada a partir de quarta-feira, com a primeira reunião do Conselho Político, integrado pelos presidentes de oito partidos que apóiam o governo. Lula quer que o Conselho centralize a coalizão e encaminhe as negociações para escolha do novo ministério. Não será nada fácil. Os partidos disputam os mesmos espaços na Esplanada.

Aliado mais importante, o PMDB quer uma cota maior que os três ministérios que ocupa hoje. Os líderes do partido sonham em dobrar essa participação e ainda avançar na ocupação de cargos de segundo escalão e em empresas estatais. O partido quer manter a pasta da Saúde, mas trocando o atual ministro, Agenor Álvares, por um nome ligado à bancada na Câmara dos Deputados. Também quer continuar com os ministros de Comunicações e Minas e Energia, mas agregando pastas novas e importantes, como Cidades, Educação e Integração Nacional. 

 Nas alturas

Depois de voltar de Cochabamba, na Bolívia, onde participou da Cúpula Sul-Americana das Nações, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva passou o domingo descansando em seu apartamento, em São Bernardo do Campo (SP). De lá, foi de helicóptero até o aeroporto de Congonhas, na zona sul de São Paulo, onde pegou o avião para Brasília. Hoje, Lula começa a semana reunindo os ministros da Coordenação Política, às 9h, no Palácio do Planalto. No fim da tarde, volta à capital paulista para participar de uma cerimônia de entrega de prêmios. À noite, retorna a Brasília.

Gustavo Krieger

Correio Braziliense