Após escapar de várias tentativas de assassinato, o detento César Augusto Roriz de Camargo, o Cesinha, de 39 anos, foi morto ontem, por volta das 10 horas, na Penitenciária de Segurança Máxima de Avaré, para onde havia sido levado no dia 7 do mês passado.

Cesinha foi um dos que, em 1993, fundaram o Primeiro Comando da Capital (PCC). Ele permaneceu na facção até novembro de 2002, quando foi expulso com José Márcio Felício dos Santos, o Geleião, e jurado de morte. No lugar dos dois, ficou Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola. Cesinha e Geleião foram acusados de radicalismo e, fora do PCC, criaram a facção rival TCC (Terceiro Comando da Capital). Tornavam-se os grandes inimigos do antigo grupo.

O corpo de Cesinha foi achado na cela 152 do raio 1 do presídio, com estacas cravadas na jugular e no tórax. Além dos espetos – feitos de cabo de vassoura – enfiados no corpo, ele também foi estrangulado com uma corda artesanal, minutos após ter tido sua visita íntima interrompida. Estava ontem com a mulher, Aurinete Félix da Silva, a Netinha, em sua cela – a 176 – quando foi atraído pelos assassinos para a outra cela.

O detento Paulo Henrique Bispo da Silva assumiu a autoria do crime e foi autuado em flagrante. Mas o delegado plantonista Georges Zedan Chehade acredita que mais gente tenha participado da execução. Sete pares de tênis de detentos apresentavam vestígios de sangue. “Tenho convicção, pela crueldade com que o crime foi praticado, que existem outros envolvidos”, afirmou.

Segundo Chehade, Silva disse que executou Cesinha por desavenças internas na facção. “O preso disse que Cesinha queria liderar o TCC da mesma maneira que agia no PCC: extorquindo integrantes e condenando à morte quem contrariasse suas regras.”

A morte não alterou a rotina na prisão, segundo agentes penitenciárias. As visitas, por exemplo, continuaram liberadas.

A Penitenciária 1 de Avaré foi transformada no ano passado em regime diferenciado para receber presos de alta periculosidade. No momento em que Cesinha foi morto, havia ali apenas mais 37 detentos.

Jurado de morte pelo PCC, ele permaneceu sob proteção de outros presos do TCC no período em que ficou na Penitenciária Danilo Pinheiro, em Sorocaba, presídio dominado pela facção. Oito assassinatos de presos ocorridos a partir de abril na unidade foram atribuídos à briga entre grupos criminosos. Os detentos teriam sido infiltrados na unidade pelo PCC para matá-lo, mas acabaram mortos por ordem de Cesinha.

Dois dos homicídios teriam sido praticados pelo próprio líder, que obrigou outros detentos a assumir o crime. No mês passado, Carlos Roberto Barbosa foi morto após presos terem descoberto que estava ali com a missão de executar Cesinha. O último assassinato, do preso Reginaldo Martins da Silva, ocorreu dias após a transferência do líder do TCC para Avaré. A direção do presídio optou por sua remoção para Avaré, considerado mais seguro e de disciplina mais rígida, por não ter condições de evitar novas mortes, já que, entre as vítimas, havia presos sem nenhuma ligação com facções.

Em Avaré, Cesinha foi colocado numa ala ocupada por integrantes do TCC. Mesmo assim, virou alvo.

José Maria Tomazela, Francisco de Assis

O Estado de S. Paulo