Poderosos papais

Amigos, companheiros, dedicados. Desse jeito, ainda são poucos. Mas alguns homens

já assumem a paternidade por inteiro. E dão uma forcinha às parceiras.

Até poucos anos, o papel do homem na sociedade se limitava

ao domínio público, à rua, ao trabalho. Enquanto

cabia à mulher cuidar dos filhos, dos afazeres domésticos

e do bem-estar do marido, ao macho brasileiro estava

reservada a tarefa de prover as necessidades do lar. Contatos e

atenções aos filhotes ou às esposas, com raras exceções, eram

atividades não previstas no cotidiano masculino.

“Historicamente na sociedade burguesa, o papel do homem

esteve restrito ao domínio público, havia pouca dedicação

às relações afetivas no contexto familiar. Ele precisava

não só garantir o sustento da família, que era formada

por muitos filhos, mas também impor suas regras, e proteger

seu nome, para que seus sucessores continuassem

cuidando de seus bens e propriedades”, observa a psicóloga

Rachel Ávila, especialista em comportamento.

Segundo ela, somente no pós-guerra, na década de

40, com a saída da mulher de casa para o mercado de

trabalho, a situação começou a se inverter. A partir desse

momento elas começaram a contribuir com o orçamento

familiar, criando uma nova relação com o homem.

Mas somente nas últimas duas décadas, a partir

das mudanças ocorridas no Código Civil e na Constituição

Federal, é que homens e mulheres passaram a ser

vistos como iguais. “Essas mudanças refletem uma organização

familiar em que homem e mulher assumem

papéis menos rígidos e mais equilibrados do que os tradicionais

consolidados pelo direito romano, que usava

a expressão pátrio poder. Atualmente, o termo foi substituído

pela poder familiar, e tanto o homem quanto a

mulher são responsáveis pela educação dos filhos”.

Ela adverte, porém, que as mudanças são reais, mas o

machismo existe de maneira velada. “Ele certamente permanece

como um valor compartilhado por homens e mulheres,

e pode se refletir em diversos contextos”, observa

Rachel. Dentro de casa, os papéis também permanecem.

Muitas mulheres, hoje, têm dupla jornada. Alguns homens

continuam se comportando como seus avôs e pais.

Não é, decididamente, o caso do funcionário público

Adriano de Oliveira Campos, 40 anos, que é considerado

um parceiro de primeira pelos três filhos legítimos —-

Jade e Leon, do primeiro casamento, e Iara, do segundo

— e pelo enteado Diego. “Meu pai é maravilhoso, bem

diferente dos outros que conheço. Ele é um pai amigo,

mas não deixa de exercer a função de autoridade: na hora

de folga, passeia, brinca, faz brincadeira. Na hora dos

estudos, pega no pé, exige. Ele é muito especial”, derrete-

se Jade, 14 anos, filha da primeira união de Adriano.

Assim como ela, Juliana, a segunda mulher do funcionário

público, também não poupa elogios ao maridão. “Ele é bem

diferente dos outros pais que conheço. Se todos fossem iguais

a ele, os homens seriam perfeitos. Tem flexibilidade, bom-humor,

assume e se preocupa com os filhos e ainda ajuda nas tarefas

domésticas”, explica a também funcionária pública.

Adriano se faz de modesto, e diz que não é tudo isso.

Mas reconhece: divide com a primeira mulher a responsabilidade

pelos filhos, que ficam metade do tempo com

a mãe, metade com o pai. Leva-os para filmes, exposições,

está sempre em casa inventando jogos e passatempos.

“Acho fundamental ser presente”, resume o paizão, que

teve uma educação bem diferente da que dá aos filhos.

“Meu pai era totalmente conservador. E nada presente.”,

admite Adriano, que tem sempre uma frase para demonstrar

o quanto gosta dos filhotinhos. “Eles são minhas

crianças, meus amigos, meus companheiros para tudo”.