A notícia de que os Veículos Aéreos Não Tripulados (Vants) recentemente adquiridos pela Polícia Federal não podem operar por falta de gasolina recebeu amplo destaque na imprensa brasileira na última quinta-feira (28). O furo partiu de reportagem da Folha de São Paulo, que enfatizou o fato de que nenhuma empresa se inscreveu para o processo licitatório que escolheria a responsável pelo fornecimento de combustível. Contudo, o SINPECPF apurou que outras questões ainda precisam ser solucionadas para que os Vants possam finalmente alçar voo.

Estimado em 540 milhões de reais até 2015, o investimento feito pela PF nos aviões não tripulados também prevê uma série de demandas por equipamentos e serviços – entre os quais cursos de capacitação de pilotos, compra de peças a até mesmo a construção de base aérea para as aeronaves. Entretanto, para que essas demandas possam sair do papel, elas devem antes passar por análise cuidadosa da Coordenação de Administração (COAD) da PF, o setor responsável pela condução dos processos de licitação no órgão.

O problema é que a COAD está hoje sobrecarregada, em razão do pequeno número de servidores administrativos trabalhando lá. “Trabalhei na área de licitações e posso dizer com tranquilidade que faltam servidores administrativos no setor”, revela a presidente do SINPECPF, Leilane Ribeiro de Oliveira. Na opinião da presidente, o órgão também peca ao desviar policiais para as funções de chefias no setor. “Nem sempre esses profissionais têm perfil de gestor”, critica, relatando que é comum processos em caráter de urgência serem repassados com o prazo próximo ao fim, dificultando o trabalho dos servidores que irão analisá-los. “Falta planejamento”, avalia.

Apenas em relação aos Vants, existem hoje cerca de 30 processos complexos a espera de análise, o que pode atrasar ainda mais a estreia desses equipamentos no combate ao crime organizado no Brasil.

Toda essa situação poderia ser facilmente solucionada caso a administração colocasse mais empenho na aprovação do projeto de reestruturação da carreira administrativa da PF, atualmente em análise no Ministério do Planejamento. Hoje, o número reduzido de administrativos se deve ao fato de a carreira não ser devidamente valorizada, o que estimula o êxodo desses profissionais. “Com a reestruturação aprovada, a carreira seria colocada no mais alto patamar do serviço público, o que nos ajudaria a lutar por uma remuneração mais digna”, argumenta Leilane. Ainda segundo a presidente, após a carreira administrativa ser devidamente valorizada, a Polícia Federal poderá realizar novos concursos para a área sem ter de se preocupar com o alto índice de êxodo desses profissionais. “Com certeza essa solução seria muito melhor do que terceirizar essas atividades ou deslocar policiais para as funções administrativas, como a PF tem feito nos últimos anos”, completa.