Intenção é conter transtornos causados pela operação-padrão dos controladores de tráfego em Brasília

Na tentativa de reduzir os transtornos causados pela operação-padrão dos controladores de vôo de Brasília, a Aeronáutica decidiu ontem instituir uma espécie de rodízio para aviões de pequeno porte e jatos executivos. Nos horários de pico – entre as 7h30 e o meio-dia e das 17 às 20 horas -, essas aeronaves ficam, em princípio, impedidas de decolar, pousar ou sobrevoar o espaço aéreo entre Brasília, Cuiabá, São Paulo, Rio e Belo Horizonte.

Exceções serão feitas em situações de emergência – como transporte de órgãos humanos para transplantes ou de pessoas doentes. Aviões em missões militares e de defesa – ou que estejam levando o presidente da República e ministros – também estão livres da restrição. A medida, segundo especialistas e militares ouvidos pelo Estado, deve afetar principalmente rotas mais longas, feitas acima de 24 mil pés de altitude.

‘Um fazendeiro que possui um avião e pretende se deslocar de uma fazenda a outra, dentro do mesmo Estado, não deve sofrer impacto. Já quem deseja ir de São Paulo para Brasília, nos horários de pico, provavelmente terá de reprogramar a viagem’, explicou o major Adolfo Aleixo, do setor de Comunicação Social da Força Aérea Brasileira (FAB).

Assinada no domingo à noite pelo Comando da Aeronáutica, sem que nenhuma das empresas afetadas fosse previamente notificada, a norma técnica vai vigorar até 28 de novembro. Os horários estipulados para a restrição aos aviões executivos são considerados os mais saturados, nos quais o centro de controle de tráfego aéreo em Brasília (Cindacta-1) registrou os maiores congestionamentos.

O Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea), vinculado à Aeronáutica, não descartou a possibilidade de, enquanto vigorar a restrição, autorizar alguns vôos mesmo nos horários de pico. Entretanto, isso só deve ocorrer se o tráfego aéreo próximo à região de Brasília não estiver sobrecarregado.

Técnicos da Agência Nacional da Aviação Civil (Anac) e da Aeronáutica fizeram ontem reuniões para avaliar o impacto das ações e o reflexo nos aeroportos. ‘Estamos em permanente avaliação da situação’, disse o diretor da Anac, Leur Lomanto. As medidas são consideradas paliativas pelas autoridades, que reconhecem a necessidade de, no mínimo, duplicar o número de servidores nos centros de controle aéreo.

Para diminuir o impacto da operação-padrão deflagrada pelos controladores na semana passada, a Aeronáutica optou por remanejar 11 profissionais de outras regiões do País. Mesmo já conhecendo o sistema, eles precisam de pelo menos uma semana de treinamento para se familiarizarem com o fluxo de operações na capital federal. No Cindacta-1, trabalham cerca de 200 controladores, todos militares, que operam em três turnos. Nos horários de pico, um profissional chegava a monitorar até 20 vôos ao mesmo tempo.

A restrição começa a valer numa semana em que, por causa do feriado prolongado de Finados, aumenta o risco de novos atrasos de vôos. Por ser o segundo hub (ponto de conexões) de vôos domésticos do País, as retenções e atrasos nos vôos comerciais que partem do Aeroporto Juscelino Kubitschek, em Brasília, refletem em outros pontos do País.

Bruno Tavares, Isabel Sobral

O Estado de S. Paulo