Devassa abrange 380 mil ligações feitas do palácio antes da compra do dossiê; juiz prorroga inquérito por 30 dias

Com autorização judicial, a Polícia Federal está investigando mais de cem telefones do Palácio do Planalto – inclusive os do gabinete do presidente Luiz Inácio Lula da Silva – para identificar ligações que os petistas envolvidos na compra do dossiê contra tucanos fizeram para o palácio. Lula não é alvo da investigação, mas a devassa da PF abrange 380 mil ligações feitas ou recebidas no Planalto – que podem incluir números usados pelo próprio presidente, seus principais assessores e até mesmo pela primeira-dama, Marisa Letícia.

Ontem, a Justiça Federal de Mato Grosso autorizou a Polícia Federal a prorrogar por 30 dias o inquérito que investiga a compra do dossiê.

As 380 mil ligações rastreadas foram feitas entre 15 de agosto e 15 de setembro, período em que um grupo de petistas negociou a compra do dossiê. A PF quer saber se alguém, além de Gilberto Carvalho, chefe de gabinete do presidente Lula, ligou para um dos seis petistas acusados de envolvimento na compra do dossiê.

– Se alguém usou algum telefone da Presidência para falar com qualquer um dos investigados pela compra do dossiê, nós vamos ficar sabendo – disse um dos encarregados da investigação.

Na semana passada, numa primeira etapa da devassa, a PF descobriu duas ligações entre os telefones de Gilberto Carvalho e de Jorge Lorenzetti, ex-chefe do núcleo de inteligência da campanha à reeleição de Lula, apontado como chefe da operação de compra do dossiê. Carvalho e Lorenzetti trocaram telefonemas em 15 de setembro, dia da prisão do advogado Gedimar Passos e do empresário Valdebran Padilha, no Hotel Ibis, em São Paulo, com o R$1,7 milhão.

Carvalho confirmou que ligou para Lorenzetti apenas para se informar sobre a prisão de Gedimar Passos, ex-policial federal que prestava serviços a campanha de Lula. No mesmo levantamento, a PF identificou duas ligações também entre Lorenzetti e o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu. Dirceu negou qualquer ligação a compra do dossiê. Mas, mesmo assim, a PF decidiu ampliar as investigações para saber se outros servidores ou ex-servidores do Planalto fizeram contatos com o grupo do dossiê.

A PF está fazendo a devassa no Planalto a partir do cruzamento de 2,8 milhões de ligações entre 56.047 telefones. No mesmo inquérito, estão sendo investigados dados cadastrais de 66.256 pessoas, 43.778 contas bancárias, 1,5 milhão de depósitos e saques e 311.039 contratos de câmbio. O cruzamento de informações está sendo feito com a ajuda de um sofisticado programa de computador que seleciona itens de interesse da investigação. A partir daí, a PF terá um mapa das ligações telefônicas e da movimentações financeiras do grupo do dossiê.

Jailton de Carvalho

O Globo