Polícia requisita ao Coaf informações sobre saques em quatro bancos para tentar identificar origem de dinheiro apreendido

No final de semana, equipe iniciou a análise dos vídeos do hotel onde aconteceu a venda do dossiê para saber se há outros envolvidos

A Polícia Federal solicitará a quebra do sigilo telefônico de pelo menos cinco petistas envolvidos no escândalo do dossiê contra tucanos: Jorge Lorenzetti, Oswaldo Bargas, Expedito Afonso Veloso, Gedimar Pereira Passos e Valdebran Padilha da Silva. Se na análise das ligações surgir o número do ex-secretário da Presidência Freud Godoy, a quebra do sigilo de seu telefone também poderá ser solicitada.

A PF já requisitou ao Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) informações sobre saques que podem estar relacionados à compra do dossiê a quatro diferentes bancos. A equipe que investiga o caso espera que o órgão já forneça alguns dados hoje mesmo.

Após os depoimentos de Lorenzetti, Bargas e Expedito, na sexta-feira passada, em Brasília, a PF decidiu delimitar o pedido de informações ao Coaf. Requisitou os saques considerados suspeitos acima de R$ 10 mil e todos acima de R$ 100 mil entre o último dia de agosto e o dia 14 deste mês, data em que a PF confirmou que os petistas já dispunham do dinheiro para a compra do dossiê.

Nos lacres do dinheiro apreendido havia a identificação do Bradesco e do BankBoston, mas a PF entendeu ser necessário incluir mais duas novas instituições na pesquisa.

A PF estabeleceu também que as informações sobre os saques sejam restringidas a um determinado número de cidades. Já se sabe que São Paulo e Rio estão incluídas, mas os demais municípios e os nomes das duas novas instituições financeiras, no entanto, estão sendo mantidos em segredo.

No final de semana, a equipe da PF encarregada do caso começou a analisar as imagens de vídeo captadas pelo sistema interno de TV do hotel em São Paulo onde Gedimar e Valdebran fecharam a venda do dossiê. A PF espera poder identificar outras pessoas do partido que também teriam participado da negociação.

Os policiais analisaram também as chamadas telefônicas feitas e recebidas no hotel onde os dois estavam hospedados. Já identificaram dezenas de ligações realizadas, por exemplo, entre Expedito e Gedimar entre os dias 12 e 14.

Expedito foi enviado a Cuiabá para receber o material que compunha o dossiê. A partir de escutas feitas no período logo anterior à entrega dos documentos, sabe-se que ele se encontrou com Luiz Antonio Vedoin, chefe da máfia das ambulâncias. Em São Paulo, Gedimar ficou encarregado de repassar o dinheiro a Valdebran.

Entre os potenciais alvos nas quebras dos sigilos telefônicos, a PF procura localizar eventuais chamadas entre Bargas e o presidente do PT, Ricardo Berzoini, no dia em que o acerto foi selado. Na semana passada, a revista “Época” divulgou que jornalistas do veículo foram procurados por Bargas e Lorenzetti, oferecendo um dossiê contra os tucanos. Os dois disseram que Berzoini sabia da conversa.

Berzoini admitiu que os jornalistas da revista haviam sido procurados por seus subordinados, mas negou que soubesse que haveria dinheiro na negociação. O episódio resultou na saída de Berzoini do comando da campanha de Luiz Inácio Lula da Silva à reeleição.

Petistas fizeram consulta sobre custo de avião O petista Valdebran Padilha da Silva levaria o dinheiro da venda do dossiê contra o tucano José Serra a Cuiabá (MT) num avião alugado, segundo investigações da Polícia Federal.

A partir de um dos números identificados pela PF na quebra do sigilo telefônico do hotel onde Valdebran e o também petista Gedimar Pereira Passos negociavam o dossiê, em São Paulo, a Folha localizou uma das empresas de táxi-aéreo consultadas por membros do partido.

Sócio da MF Aviação, de Campo Grande (MS), Eduardo Zanchetti disse à reportagem que duas semanas atrás uma mulher ligou para sua empresa, requisitando orçamento para o fretamento de um avião. A aeronave seria usada para buscar uma pessoa em São Paulo e levá-la para Cuiabá (MT).

Segundo Zanchetti, a mulher, uma secretária particular, deixou o telefone de um homem para que ele passasse o preço e as condições da aeronave.

O empresário disse não se lembrar do nome nem do telefone do sujeito com o qual tratara, mas recordou-se que ele se apresentou como sendo do PT. Zanchetti disse também que o preço seria R$ 15 mil, mas que a pessoa não fechou o aluguel por considerar o avião lento e pequeno. Questionado se o interlocutor se chamava Valdebran Padilha da Silva, Zanchetti afirmou que não, pois só ouviu falar no nome dele pela TV.

LEONARDO SOUZA

Folha de S. Paulo