Segundo investigadores, quadrilha planejava assaltar três bancos e uma seguradora

A Polícia Federal suspeita que um túnel de 87 metros de extensão descoberto no Centro de Maceió tenha sido aberto por assaltantes ligados à facção criminosa que realizou a onda de ataques em São Paulo. O túnel, informou ontem o superintendente interino da PF em Alagoas, delegado Fernando Costa, seria usado para assaltos a três agências de bancos privados e a uma seguradora de valores, todas instaladas no bairro do Farol, na parte alta da cidade.

O delegado sustenta que a ação só não ocorreu porque os 20 assaltantes envolvidos no planejamento foram chamados, há 20 dias, para reforçar o outro grupo da mesma facção criminosa que executava um plano semelhante no Rio Grande do Sul e acabou desbaratado pela Operação Facção Toupeira da Polícia Federal, na sexta-feira passada.

O túnel, cuja entrada estava a mais de três metros de profundidade, foi cavado numa casa na Rua Professor Guedes de Miranda 67, no bairro do Farol (a cinco minutos do centro da capital alagoana), e seguia em direção à Avenida Fernandes Lima, próximo ao Shopping Cidade.

O traçado levou os peritos da PF a acreditar que o grupo roubaria as agências da Caixa Econômica Federal (que fica ao lado do shopping), do Bradesco, do Unibanco, e a Seguradora de Valores Nordeste, que guarda valores e armas de fogo.

Além de quatro pessoas presas na casa, foram apreendidos dois carros (uma Fiorino e uma van, com placas de Pernambuco), fios de energia elétrica e três carrinhos de rolimã. A terra retirada do túnel estava estocada na despensa. O imóvel pertence à família da delegada da Polícia Civil de Alagoas, Maria do Socorro, que se diz surpresa com tudo. A delegada informou que sua mãe alugou o imóvel para um dos integrantes do grupo – o valor ainda é sigilo. Ela disse que não desconfiou de nada.

Segundo o perito Rogério Beleza, um dos cinco da PF que estiveram no local, as investigações continuam porque a polícia deve fazer novas prisões dentro de alguns dias. Há dez mandados de prisão ainda a serem cumpridos.

Dois suspeitos permanecem presos na sede da PF

Na primeira fase da operação, quatro pessoas foram presas e interrogadas pelo delegado Daniel Granjeiro: Fagner de Araújo Santos, de 24 anos, Joseilson da Silva Brito, de 25, e José Edvaldo da Silva, de 35, que são alagoanos, além de um pernambucano conhecido por Boneco de Olinda, preso com 18 carteiras de identidade. Mas só duas pessoas permanecem presas; as identidades ainda são mantidas sob sigilo.

O delegado Fernando Costa disse que parte do bando está ligada também ao assalto ocorrido em agosto do ano passado ao Banco Central em Fortaleza. A PF tenta agora encontrar os responsáveis pelo repasse de informações, e se há ligação de funcionários de bancos e empresas com a quadrilha.

O mapa do crime organizado

Com novas apreensões de dinheiro – foram R$646,6 mil em duas operações realizadas em Peruíbe, litoral de São Paulo, e na fazenda Boa Sorte, no município de Pium (TO), a 150 quilômetros de Palmas – e a descoberta de mais um túnel, de 87 metros de extensão, que seria usado para assaltos a três agências de bancos privados e a uma seguradora de Valores em Maceió, a Polícia Federal dá mostras de que a facção criminosa que aterroriza São Paulo e é suspeita do assalto ao Banco Central de Fortaleza, ano passado, está ramificada em todo o país. A Operação Facção Toupeira, desencadeada na sexta-feira em dez estados brasileiros – e que resultou na prisão de 26 homens que cavavam um túnel no centro de Porto Alegre para assaltar os cofres do Banco do Estado do Rio Grande do Sul e Caixa Econômica Federal – prevê para os próximos dias mais prisões, além dos 41 envolvidos já encarcerados.

A PF acredita que o dinheiro encontrado em São Paulo e em Tocantins seja parte dos R$164,8 milhões levados no assalto ao Banco Central de Fortaleza. O delegado de Combate ao Crime Organizado da PF no Rio Grande do Sul, Ildo Gasparetto, disse que o objetivo da quadrilha era roubar dos bancos gaúchos um valor “bem superior” ao levado do Banco Central.

Gasparetto contou que a Polícia Federal chegou a essa conclusão após ouvir os depoimentos dos presos. A maior parte deles, 26, está presa no presídio de segurança máxima de Charqueadas, a 60 quilômetros de Porto Alegre. Segundo o delegado, a PF, ao se antecipar à ação da quadrilha, evitou um dos maiores assaltos já realizados:

– Seria o maior assalto ocorrido no país – disse o delegado.

Achados R$450 mil em casa de praia

Só em São Paulo, 60 policiais federais participaram de ações de buscas em residências durante o fim de semana à procura de criminosos ligados à facção criminosa que organizou ataques a alvos civis e militares no estado. No sábado, em Peruíbe, no litoral Sul, a polícia encontrou R$450 mil em uma casa de praia que estaria sendo usada por parentes de Lucivaldo e Geovan Laurindo, presos sexta-feira em Porto Alegre. A polícia suspeita que a casa tenha sido comprada com dinheiro roubado em Fortaleza e pretende pedir o bloqueio do imóvel.

Na madrugada de ontem, a polícia encontrou mais R$196,6 mil no fundo falso de uma caixa de isopor. A caixa estava enterrada na sala da sede da fazenda Boa Sorte, em Pium, em Tocantins. A propriedade é de Raimundo Laurindo Barbosa Neto, preso sexta-feira em Parnaíba (PI), acusado de ser um dos principais articuladores do assalto ao BC de Fortaleza.

Na fazenda no interior de Tocantins foi preso Francisco Nascimento Barbosa, o Chicão, primo de Laurindo Barbosa Neto. Ainda no estado, três mandados resultaram na apreensão de veículos e no seqüestro judicial da fazenda Boa Sorte. A superintendente da PF no estado, Neide Alvez Alvarenga, disse que a propriedade estava sendo monitorada há cinco meses.

– Nós sabíamos que a fazenda era de um dos participantes do assalto do Banco Central – afirmou Neide.

O Ministério da Justiça informou que há ainda 15 mandados de prisão a serem cumpridos pelos agentes federais, que continuam as buscas. E a PF confirmou que investigará a possível participação de funcionários do Banrisul. Eles teriam fornecido informações à quadrilha em relação à posição dos cofres e ao sistema de alarme. Segundo nota da PF, “os chefes da organização criminosa, para incentivar os criminosos, diziam-lhes que haveria uma grande quantidade de dinheiro e valores dentro dos cofres”. O valor contido nos cofres do Banrisul e Caixa Federal seria de cerca de R$80 milhões.

O Globo