Comerciante foi atingido por estilhaço de míssil no domingo e menino morreu ontem em casa bombardeada

O comerciante naturalizado brasileiro Aiman Daher, de 35 anos, morreu domingo no Líbano durante um bombardeio de aviões israelenses contra a cidade de Sur. Outro brasileiro, o menino Basel Termos, de 7 anos, morreu ontem quando a casa de parentes que ele visitava na cidade de Taloussa, sul do Líbano, foi atingida por mísseis de Israel. A mãe e o irmão de Basel ficaram gravemente feridos (ler ao lado).

Daher será sepultado naprópria cidade de Sur, a 100 quilômetros de Beirute, onde ele nasceu, informou a família. “Vamos viajar assim que houver uma trégua na guerra”, disse o tio, Majed Zabad.

Daher foi atingido na cabeça pelo estilhaço de um míssil lançado pelas forças de Israel contra Sur, no sul do Líbano. Ele estava sentado num café pertencente à família de sua mulher, na frente de um prédio atingido por um míssil.

“Aiman achava que estava seguro, pois o café fica do lado de uma instalação da Cruz Vermelha”, disse o tio. Quando o míssil destruiu o prédio, escombros e estilhaços atingiram o café. A cidade, pequena, fica próxima de Tiro e não tem bases militares, segundo Zabad.

O ataque ocorreu às 16 horas, horário local. Por volta das 10 horas, Daher tinha ligado para o Brasil e falara com o pai, o comerciante Mohammed Daher. Segundo o tio, ele viajara três dias antes de começar a crise entre Israel e Líbano e pretendia ficar no país mais duas semanas.

Daher foi sozinho para o Líbano. A mulher Zena e seus dois filhos, Lena e Ali, ficaram no Brasil. A família vestia luto ontem em Itapetininga, a 165 quilômetros de São Paulo, onde moram os pais de Daher. A família tem lojas na cidade. O comerciante era dono de lojas e de uma fábrica de roupas no bairro do Brás, em São Paulo. Parentes recebiam a solidariedade de amigos e conhecidos que chegaram do Paraná.

Segundo Zabad, parentes no Líbano estão cuidando dos preparativos para o sepultamento. O corpo está sendo conservado num hospital de Tiro. Mas o pai de Aiman não quer viajar: “Ele prefere não ver o filho morto, quer pensar que ele ainda está viajando”, disse Zabad.

Ele contou que o sobrinho estava havia 27 anos no Brasil e se considerava brasileiro. “Mas ele tinha grande apreço pelo seu país de origem e viajava todo ano para o Líbano.” O irmão e as duas irmãs do comerciante nasceram no Brasil. A família fez fortuna no País. “A mãe dele (Daher) sofreu e lutou muito, mas conseguiu dar um bom padrão de vida para os filhos”, afirmou Zabad. Os parentes estão revoltados com a guerra, principalmente com o governo israelense. “Essa guerra não é nossa, mas nós estamos morrendo”, disse o tio de Daher. Segundo ele, o povo libanês e o povo de Israel não querem a guerra. “São os governos que matam.” MANIFESTAÇÕES

Entidades da comunidade árabe realizam hoje às 17 horas diante da Assembléia Legislativa de São Paulo (Av. Pedro Álvares Cabral) uma manifestação contra os ataques ao Líbano. Sábado, às 9h30, o Movimento Jovem Amigos do Líbano fará uma marcha pela paz na Av. República do Líbano. A marcha começará no Clube Monte Líbano.

José Maria Tomazela

O Estado de S. Paulo