Os policiais da Força Nacional de Segurança (FNS) sequer tinham sido formalmente informados, mas ontem já podiam comemorar um aumento de 100% nas diárias: cada dia de trabalho no Rio durante os Jogos Pan-Americanos lhes renderá R$ 230, conforme o Decreto presidencial nº 6.145, publicado ontem no Diário Oficial da União.

O decreto poderá conter a saída de policiais da Força: pelo menos 145 deles preferiram voltar para casa, como antecipou o JB na segunda-feira. Ontem, ainda sem saberem do aumento, os policiais reclamavam que a diária de R$ 120 não estava valendo a pena.

Como somos da elite da polícia em nossos Estados, isso nos rende muitos bicos. Só com eles, ganhamos pelo menos R$ 2 mil por mês – contabiliza um agente, que pediu para não ser identificado.

O decreto abrange não só a Força, como todos os servidores federais que estarão atuando no Rio durante o Pan. Terminada a competição, a diária volta a ser de R$ 120. Pelos 16 dias de trabalho, os soldados da FNS receberão ao todo R$ 3.680, mais do que o salário mensal da Polícia Militar do Distrito Federal, a mais bem remunerada do país – o piso salarial daquele Estado é de R$ 3.200.

Presidente da Associação dos Militares, Auxiliares e Especialistas (Amae), o tenente Melquisedec Nascimento acredita que o aumento poderá repercutir muito mal na PM fluminense, uma vez que o reajuste salarial é reivindicação antiga da classe. Os policiais do Rio recebem R$ 874 – é o segundo pior contracheque entre todas as PMs brasileiras.

É uma injustiça sem precedentes e, sem dúvida, vai desestimular enormemente toda a classe – acredita Melquisedec. – Não bastasse isso, nossos policiais certamente terão a carga horária aumentada, como sempre acontece nos grandes eventos. Ou seja, vamos trabalhar mais sem sequer ganhar hora extra.

A disparidade salarial entre policiais da PM e da FNS é um dos pontos destacados em documento entregue ontem por um grupo de coronéis do Estado ao secretário de Segurança, José Mariano Beltrame. Segundo os oficiais, um praça da PM ganha seis vezes menos do que um policial de mesmo nível da Força.

Jornal do Brasil

5/7/2007