O ministro Tarso Genro continua sendo o favorito para comandar o Ministério da Justiça no segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a despeito da crise aberta no PT por causa de sua proposta de “refundação” do partido. Um documento com uma versão preliminar da proposta vazou no fim de semana, durante encontro do Campo Majoritário, hoje a principal tendência do PT, provocando a ira de dirigentes e personalidades da legenda, como o ex-ministro José Dirceu. 

“Esse episódio pode ter criado uma marola, mas não prejudica a imagem do ministro Tarso Genro junto ao presidente”, revelou ontem um assessor direto de Lula. “O presidente continua dando demonstrações de que quer nomear Tarso Genro para a Justiça”, assegurou um ministro. 

Genro, segundo apurou o Valor, vem trabalhando há três meses, sem fazer alarde, na confecção de um documento com propostas de “refundação” do PT, idéia que ele defendeu, em 2005, quando presidiu o partido por algumas semanas, no auge da crise política que se abateu sobre o governo e a legenda, acusados de envolvimento nos escândalos do mensalão. O documento preparado pelo atual ministro das Relações Institucionais aponta responsabilidades de integrantes do Campo Majoritário nos escândalos e propõe a refundação do partido. 

Tarso Genro não vinha trabalhando sozinho. Na verdade, segundo um assessor graduado do Palácio do Planalto, ele é o coordenador informal do de um grupo significativo de petistas, a maioria, de fora de São Paulo. Mesmo ainda não tendo assinado o documento, alguns petistas de peso estariam participando das discussões. Entre eles, estaria o governador de Sergipe, Marcelo Déda. As idéias do grupo estavam sendo elaboradas com vistas ao 3º Congresso Nacional do PT, agendado para julho. 

“A carta (de Tarso Genro) é o resultado de um movimento de vários setores do partido que estão se preparando para o Congresso do PT. Todas as tendências estão se movimentando”, comentou um auxiliar do presidente Lula, que, segundo informou um outro assessor, sabe da iniciativa da Genro e a apóia. “O documento é interessante. Ele oxigena o debate interno num momento importante do PT”, observou um colaborador do presidente. 

Responsável pela articulação política do governo, Tarso Genro está cotado, desde o fim do ano passado, a substituir Márcio Thomaz Bastos na Justiça. Bastos, que tomou a decisão de deixar o cargo antes mesmo da eleição do ano passado, espera desde dezembro pela nomeação do substituto. Ontem, Lula pediu novamente a ele que espere mais alguns dias. A tendência é que o presidente só faça a nomeação quando concluir a montagem do novo ministério. 

Ontem, ao fim da reunião de coordenação política, no Palácio do Planalto, o presidente informou que está começando a tratar da reforma ministerial. Não mencionou prazos, mas deixou a impressão, em alguns interlocutores, de que não vai demorar muito para fazer as escolhas. As pressões, especialmente do PT e do PMDB, partidos que se sentem com crédito junto ao governo por causa das eleições para as Mesas da Câmara e do Senado, já começaram, mas, segundo afiançou um auxiliar, não funcionam. 

“Acelerar o processo de definição contraria a natureza dele”, disse um assessor, que não acredita, porém, que ele vá estender o processo até março. Ontem, Lula teve uma conversa reservada com o presidente da Câmara dos Deputados, Arlindo Chinaglia (PT-SP), durante almoço no Palácio da Alvorada. Segundo sua assessoria, ele gostaria de se reunir ainda ontem com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que, devido a compromissos em São Paulo, não havia chegado a Brasília até o início da noite. 

O passo seguinte, na agenda da reforma ministerial, será reunir os presidentes dos partidos aliados e conversar com as lideranças desses partidos no Congresso. 

Cristiano Romero

Valor Econômico

6/2/2007