O delegado e deputado estadual de São Paulo Romeu Tuma Júnior (PMDB) tomou posse ontem como secretário Nacional de Justiça, cargo para o qual foi indicado na semana passada e que causou surpresa dentro do próprio governo. Filho do corregedor do Senado, Romeu Tuma (DEM-SP), Tuma Júnior e seu pai negaram que a nomeação teve caráter político, e que teria sido uma negociação para que o senador passe a fazer parte da base do governo. Ontem, o ministro da Justiça, Tarso Genro, também empossou o ex-deputado Antônio Carlos Biscaia na Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp).

Enquanto o senador nega que tenha havido uma indicação política na nomeação de seu filho, Tarso Genro foi categórico em seu discurso, ao afirmar que os dois novos secretários têm capacidade técnica para gerenciar suas áreas. “Os dois que estão assumindo sabem onde estão por causa de suas trajetórias e de suas carreiras”, afirmou o ministro. Segundo ele, quando convidou Biscaia para assumir a secretaria Nacional de Justiça, o ex-deputado tinha dito que gostaria de ir para a Senasp, mas que, naquela ocasião, o órgão estava sendo bem ocupado pelo atual diretor-geral da Polícia Federal, Luiz Fernando Corrêa.

Tuma Júnior ressaltou que jamais aceitaria um cargo por indicação política, e que nem o ministro Tarso Genro aceitaria algum tipo de negociação nesse sentido. “É especulação de pessoas que não conhecem nosso trabalho”, afirmou o novo secretário. Segundo ele, sua indicação já estava sendo cogitada há muito tempo. O nome de Tuma Júnior chegou a ser ventilado, ainda na época do ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos, mas não havia definição para qual cargo seria ocupado.

Enquanto Biscaia preferiu fazer um balanço do que fez em seis meses à frente da Secretaria Nacional de Justiça, observando que fez ressurgir o nome da secretaria. Até então, eram os órgãos ligados a ele quem apareciam, como o Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional (DRCI). “Hoje a secretaria tem identidade própria”, disse Biscaia. Ele ressaltou que no novo cargo vai dar prioridade ao Programa Nacional de Segurança com Cidadania (Pronasci).

Investigações

Delegado que participou das investigações da chamada Máfia dos Fiscais, em São Paulo, Tuma Júnior disse que voltará seu trabalho para o combate ao crime organizado, principalmente as ações de lavagem de dinheiro. Ao contrário de Biscaia, que não revelou se vai dar andamento nos projetos de seu antecessor, Tuma afirmou que vai incrementar a Estratégica Nacional de Combate à Lavagem de Dinheiro e à Corrupção (Enclcca), uma marca de Thomaz Bastos, que era dirigida pelo DRCI e outros 28 órgãos federais. “Todo homem que se vende sempre recebeu mais do que vale”, filosofou Tuma Júnior, numa referência à política de combate à corrupção que adotará. Com 47 anos, o deputado paulista afirmou que sua experiência como delegado o capacitou para cuidar deste tipo de crime. Além do senador Romeu Tuma, a posse de Biscaia e Tuma Júnior teve a presença do presidente da Câmara dos Deputados, Arlindo Chinaglia (PT), e da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva. 

 

análise da notícia

A nova equipe do ministro

Em março, quando assumiu o Ministério da Justiça, Tarso Genro já tinha em sua cabeça as pessoas com quem iria trabalhar. E ontem, com a posse dos secretários nacional de Segurança Pública e de Justiça, Antônio Carlos Biscaia e Romeu Tuma Júnior, respectivamente, ele praticamente completou a equipe. E nela, desde que deixou a Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República, Genro não incluíra o delegado Paulo Lacerda, ex-diretor-geral da Polícia Federal.

A guerra interna ocorrida por causa da sucessão de Lacerda fez com que o ministro o deixasse no cargo por tempo indeterminado. O prazo seria pelo menos até o final do ano, tempo suficiente para que a transição fosse feita de forma serena. No entanto, o governo decidiu antecipar os acontecimentos e levar o ex-secretário nacional de Segurança Pública Luiz Fernando Corrêa para a PF. Decisão que estava tomada desde março.

Paulo Lacerda, que já havia recusado uma diretoria do Instituto Nacional de Seguro Social (INSS) e a presidência do Ibama, é considerado um ícone dentro da PF, onde entrou como papiloscopista e chegou a diretor-geral. Conseguiu resgatar a imagem da corporação e do próprio governo. Por isso, não poderia ficar de fora dos planos do Palácio do Planalto, o que ocorreria com as modificações de Tarso Genro.

Sem muitas afinidades com a Agência Brasileira de Inteligência (Abin), foi para lá que o governo decidiu conduzir Paulo Lacerda, talvez uma forma de explicar à sociedade que o homem que arrumou a PF continuava na administração pública. Além disso, transformou a transferência do delegado em mais uma missão importante, como fez na Polícia Federal.

Edson Luiz

Correio Braziliense

11/9/2007