Bastos, com o diretor-geral da PF, Paulo Lacerda: para ele, é natural que haja ligações dos petistas do dossiê para membros do governo

O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, isentou ontem o PT de qualquer envolvimento na negociação do dossiê contra os tucanos e atribui a responsabilidade a um grupo isolado de petistas. “É evidente que não foi o PT. Foram pessoas que montaram um grupo de inteligência entre aspas e que fizeram isso. É isto que está nos autos (do inquérito)”, afirmou ele, após participar de cerimônia no Instituto Nacional de Criminalística (INC), órgão ligado à Polícia Federal.

A declaração do ministro ocorre em meio a críticas da oposição de que ele estaria por trás de uma suposta “operação abafa” para comprometer o trabalho da Polícia Federal, instituição subordinada ao Ministério da Justiça e encarregada de apontar a origem dos R$ 1,75 milhão que seriam usados para a compra do material. “Fico triste quando vejo que o uso eleitoral e a paixão eleitoral possam fazer esse tipo de crítica, absolutamente destituída de fatos. A investigação não pode e nem vai ser distorcida pela paixão eleitoral daqueles que estão perdendo as eleições”, afirmou Bastos.

Daniel Ferreira/CB

Até agora, com pouco mais de 30 dias de apuração do escândalo, a PF descobriu que um grupo de seis petistas ligados à cúpula do partido e também da coordenação da campanha à reeleição do presidente Lula se envolveu na negociação do dossiê que tinha o objetivo de comprometer integrantes do PSDB com os sanguessugas. Os policiais federais responsáveis pelo inquérito conseguiram apontar a participação de cada um deles na negociação, mas ainda não foi possível chegar a um mandante ou mesmo à origem do dinheiro que financiaria o material (leia mais na página 8).

Thomaz Bastos voltou a elogiar a atuação da Polícia Federal no combate ao crime e à corrupção durante esses quase quatro anos de administração Lula. E destacou que a investigação do dossiê tem à frente um “juiz extremamente profissional” — o juiz Jeferson Schneider, da 2ª Vara Federal do Mato Grosso — e é feita sob a fiscalização da Procuradoria da República naquele estado.

Ligações

Márcio Thomaz Bastos também fez comentários sobre as ligações investigadas na Presidência da República. Na busca para levantar toda a rede de envolvidos no escândalo do dossiê Vedoin, a PF rastreou 2,8 milhões de chamadas, das quais 380 foram originadas ou recebidas por cem telefones do Palácio do Planalto. O ministro da Justiça confirmou a informação, mas disse que, entre eles, não estariam incluídos os do gabinete do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

“Não se pode rastrear o gabinete do presidente. Quem pode rastrear telefone do presidente é o Supremo Tribunal Federal, com requisição do procurador-geral da República”, explicou Thomaz Bastos. Ainda assim, telefones de assessores próximos de Lula caíram na malha fina da PF os telefonemas trocados entre o secretário particular de Lula, Gilberto Carvalho, e Jorge Lorenzetti, ex-analista de risco da campanha presidencial e apontado pelo delegado Diógenes Curado, que presidente o inquérito, como o “articulador” da negociação do dossiê. “Essas pessoas não são bandidos que vieram de Marte. Elas são petistas e é natural que ligassem para outros petistas no governo”, afirmou.

É evidente que não foi o PT. Foram pessoas que montaram um grupo de inteligência entre aspas e que fizeram isso

A investigação não pode e nem vai ser distorcida pela paixão eleitoral daqueles que estão perdendo as eleições

Márcio Thomaz Bastos, ministro da Justiça

Marcelo Rocha / Da equipe do Correio

 

Petistas usaram linhas “seguras”

Cuiabá — A Polícia Federal já sabe que os petistas envolvidos na compra do dossiê Vedoin — que seria usado para incriminar tucanos com a máfia das ambulâncias — usaram “linhas telefônicas seguras”, registradas em nome de “laranjas”, para se comunicar entre si e com o empresário Luiz Antônio Vedoin, dono dos documentos que comprometeriam os ex-ministros da Saúde Barjas Negri e José Serra. As linhas de celulares pré-pagos teriam sido compradas originalmente em nome de terceiros, mas utilizadas pelos petistas para evitar rastros e despistar futuras investigações.

A PF aposta no cruzamento de ligações feitas destas linhas “seguras” para tentar chegar aos outros articuladores da compra do dossiê, além de Valdebran Padilha e Gedimar Pereira Passos, Expedito Veloso e Hamilton Lacerda. A política fará este cruzamento tentando identificar, nos registros das Estações de Rádio Base (ERBs) da rede de telefonia celular, onde estavam os aparelhos “seguros” nos dias que antecederam a tentativa de compra do dossiê e quem estava utilizando as linhas. Muitos desses números aparecem recebendo ou fazendo ligações para aparelhos celulares registrados em nome de petistas. A polícia já começou a analisar os telefonemas, inclusive entre números instalados no Palácio do Planalto e no comitê central da candidatura do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Uma dificuldade já detectada pela PF é que todos os envolvidos no caso, inclusive Jorge Lorenzetti, ex-analista de risco e mídia da campanha de Lula, utilizavam, nas comunicações entre si, rádios Nextel. Este tipo de telefone, via ondas de rádio como os celulares, mas sem o registro de cada ligação no banco de dados da empresa de telefonia, não revela quantas vezes ou quais os dias e horários que os envolvidos no caso se comunicaram. Lorenzetti recebeu telefonemas do chefe de gabinete do presidente, Gilberto Carvalho, no dia em que os petistas foram presos em São Paulo.

Leonel Rocha

Enviado especial