Partido indica presidente e três diretores de estatal por desistir de candidato próprio

Empresa, que foi pivô do escândalo do mensalão, faturou R$ 8,6 bi em 2005 e deve gastar R$ 90 mi em publicidade neste ano

Em ano eleitoral, o governo deu ao PMDB o controle sobre a direção dos Correios. Ontem, o “Diário Oficial” da União publicou a indicação do novo presidente da empresa e de três diretores, todos ligados à bancada do partido no Senado. A nomeação de mais três diretores deve sair nos próximos dias.

O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), o senador José Sarney (PMDB-AP) e o líder do governo na Casa, Romero Jucá (PMDB-RR), capitanearam as indicações.

A ala governista do PMDB é cortejada por Lula, que busca o apoio do partido para fortalecer seus palanques regionais, além de prometer um governo de coalizão caso seja reeleito.

A indicação também é classificada pela oposição como um pagamento pela operação dos governistas do PMDB que impediram o partido de lançar candidato próprio à Presidência. Com isso, aumentam as chances de Lula ganhar a disputa no primeiro turno.

“Não é possível que uma entidade como os Correios, que ficou tão exposta pelo que foi praticado ali dentro, seja motivo de barganha para abrigar apaniguados de partidos”, disse o senador Heráclito Fortes (PFL-PI), ontem no plenário.

A estatal é uma das maiores empresas do país, tem 110 mil empregados, comanda investimentos de aproximadamente R$ 500 milhões, tem verba publicitária de cerca de R$ 90 milhões e, em 2005, faturou R$ 8,6 bilhões (e lucrou R$ 393 milhões). O salário de diretor é de cerca de R$ 18 mil e o de presidente, de cerca de R$ 20 mil.

O novo presidente dos Correios, Carlos Henrique Almeida Custódio, é uma indicação do ministro das Comunicações, Hélio Costa (PMDB-MG); Carlos Roberto Samartine Dias, novo diretor de Operações, foi sugerido pelo líder do PMDB no Senado, Ney Suassuna (PB); Manassés Leon Nahmias, novo diretor de Tecnologia, é indicado pelo senador Luiz Otávio (PMDB-PA). O novo diretor Comercial, Samir de Castro Hatem, é indicação de Jucá.

“O PMDB indicou pessoas técnicas e que têm experiência. Essas nomeações referendam que o PMDB está colaborando com o governo”, afirmou Jucá.

O novo presidente dos Correios ocupava o cargo de diretor de Crédito da Caixa Econômica Federal. Hatem foi presidente do INSS quando Jucá foi ministro da Previdência. Os outros dois nomes já faziam parte dos quadros da empresa.

Corrupção

Há um ano, a diretoria dos Correios pediu demissão coletiva em meio à crise que surgiu com a divulgação de fitas na quais um funcionário aparecia recebendo propina. A crise originou o escândalo do mensalão. Quando a crise eclodiu, o PMDB tinha a presidência e três diretorias. O PT tinha duas diretorias e o PTB, uma. Com a demissão, nomes técnicos da empresa assumiram os cargos.

Agora, o PMDB volta ao comando da empresa com a expectativa de que não haja divisão de poder. O partido quer ainda as três diretorias que aguardam nomeação (Administração, Econômico-Financeira e Recursos Humanos).

Acusações

Os membros do partido que fizeram as indicações são acusados de irregularidades. Jucá foi investigado por supostas irregularidades no empréstimo concedido pelo Basa (Banco da Amazônia) à empresa Frangonorte, que pertenceu ao senador entre 1994 e 1997. Ele nega.

O senador Ney Suassuna teve dois assessores presos na operação “Sanguessuga”, da Polícia Federal, que desbaratou a máfia que vendia ambulâncias superfaturadas para prefeituras.

Já o senador Luiz Otávio, que chegou a ser cogitado para assumir um cargo de ministro do Tribunal de Contas da União, acabou não assumindo a função porque era investigado pelo próprio tribunal por suposto desvio de verbas públicas.

Propina a diretor deflagrou maior crise do governo O uso político da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos deflagrou a mais grave crise do governo Lula. O escândalo veio a tona em maio de 2005, com a divulgação de gravação que flagrou o ex-funcionário Maurício Marinho recebendo R$ 3.000 de propina. No vídeo, ele citou o então deputado petebista Roberto Jefferson.

Três semanas após a acusação, em entrevista à Folha, Jefferson denunciou o mensalão -mesada de R$ 30 mil do PT a deputados do PP e do PL em troca de apoio ao governo- e disse que os operadores eram o publicitário Marcos Valério e o ex-tesoureiro do PT, Delúbio Soares.

À CPI dos Correios Marinho lançou suspeita sobre ingerência em contratos da estatal. A comissão concluiu que Jefferson quis estabelecer “rede de influência (…) baseada na indicação política para a ocupação de cargos com vistas à captação de recursos para financiamento eleitoral”. O ex-deputado é acusado de crime eleitoral, crime contra a ordem tributária e corrupção passiva. Marinho foi acusado por corrupção passiva.

O Tribunal de Contas da União (TCU) e a Controladoria Geral da União (CGU) detectaram prejuízo de pelo menos R$ 121 milhões na estatal, concentrados na área de transporte aéreo de cargas e aquisição de produtos e serviços de informática. Os dirigentes envolvidos no escândalo, supostamente ligados ao esquema político do PTB, foram afastados no ano passado.

HUMBERTO MEDINA e SILVIO NAVARRO da Folha de S. Paulo