O presidente Luiz Inácio Lula da Silva jura que não se entusiasma com pesquisas de opinião pública. Um visitante que entrou no gabinete presidencial no final da manhã de ontem se deparou com uma cena que desmente essa garantia. Lula estava debruçado em frente ao computador, enquanto o ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, examinava um maço de folhas impressas. Os dois conferiam os números da pesquisa de opinião feita pelo Ibope para a Confederação Nacional da Indústria (CNI), divulgados ontem. A pesquisa traz boas notícias para o presidente candidato. Consolida a tendência dos últimos levantamentos, segundo a qual, se a eleição fosse hoje, Lula venceria no primeiro turno. Mostra também que o governo recuperou os índices de aprovação que tinha antes da crise provocada pelas denúncias do mensalão e da revelação do esquema de caixa 2 montado pelo ex-tesoureiro do PT, Delúbio Soares.

A pesquisa foi realizada entre 5 e 7 de junho e ouviu 2.002 eleitores em 143 municípios do país. O Ibope simulou um cenário sem candidatura do PMDB, como acabou sendo decidido pelo partido. Neste cenário, Lula tem 48% das preferências. Geraldo Alckmin, do PSDB, é o segundo colocado, com 19%. Heloísa Helena, do PSol, tem 6% e Enéas, do Prona, 2%. Cristovam Buarque, do PDT, obteve 1% das indicações. Somados, os candidatos de oposição têm 28% dos votos, o que indica uma vantagem significativa de Lula para vencer no primeiro turno. Se houver segundo turno, a pesquisa mostra que ele teria 53%, contra 29% de Alckmin.

As pesquisas Ibope/CNI são trimestrais. Por isso, permitem uma observação mais distanciada dos efeitos políticos e eleitorais de cada episódio. Elas mostram claramente que o governo Lula viveu seu inferno astral entre junho e dezembro do ano passado. Em junho, o ex-deputado Roberto Jefferson (PTB) deu a entrevista na qual denunciou o pagamento de “mensalão” aos parlamentares que apoiavam o governo Lula no Congresso. A denúncia levou à criação de três CPIs no Congresso. No final do ano passado, oposição e governo consideravam possível um impeachment do presidente. E pouca gente levava a sério a possibilidade de reeleição.

Virada

A partir de janeiro, o quadro começou a virar. O esgotamento das CPIs, uma certa exaustão da opinião pública com as denúncias e a entrada em campo de um bilionário “pacote de bondades” do governo federal provocaram uma reversão dos índices.

Em dezembro, Lula tinha 32 pontos na pesquisa do Ibope/CNI. Em seis meses, ganhou 16 pontos percentuais. Neste período, Alckmin estacionou. Ele tinha 20% em dezembro, 19% na pesquisa de março e repetiu o índice no levantamento de junho. O crescimento eleitoral do presidente coincide com a melhoria na avaliação do governo. Os índices de aprovação do presidente e sua administração retornaram ao patamar de 2003, quando o governo ainda vivia sua fase de “lua-de-mel” com a opinião pública.

Em junho do ano passado, antes do mensalão, a aprovação do governo era de 55% e a desaprovação era de 38%. Em dezembro, o quadro tinha se tornado dramático para o presidente. Nada menos que 52% dos entrevistados reprovavam o governo e apenas 42% eram favoráveis. No primeiro semestre deste ano, o quadro sofreu outra reviravolta, desta vez favorável. A aprovação subiu 18 pontos percentuais em seis meses e chegou a 60%. No mesmo período, a reprovação caiu 18 pontos e está em 34%.

Lula se beneficia disso com um baixo índice de rejeição. Segundo o Ibope, ele é o candidato com a menor taxa entre os nomes que disputarão a Presidência da República. Entre os eleitores ouvidos, 28% não declararam que não votariam nele de jeito nenhum se a eleição fosse hoje. Na mesma questão, 34% disseram não admitir a hipótese de votar em Alckmin e 36% rejeitam Heloísa Helena. O dado é significativo, porque Lula também é o candidato mais conhecido.

Outro ponto que o governo quer explorar na eleição é a comparação com o governo Fernando Henrique. A estratégia é ligar o tucano Alckmin à imagem do governo FHC. Esta é uma decisão baseada em pesquisas. Para 55% dos eleitores ouvidos pelo Ibope, o governo Lula é melhor que o de Fernando Henrique. Outros 23% consideram os dois governos iguais e 18% preferem a administração tucana.

“UMA ANGÚSTIA”

O presidente Lula disse, após a partida contra a Croácia, que “foi um sofrimento, uma angústia” ver o adversário com mais domínio de bola em boa parte do jogo. Lula viu a partida no Palácio do Alvorada com a primeira dama, Marisa Letícia, a chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, governistas do PMDB, como os senadores José Sarney (AP) e Renan Calheiros (AL), e deputados.Contido, Lula disse que “na hora em que os jogadores desabrocharem, o Brasil tem chance de ganhar de muito dos adversários.” (Sandro Lima)

Gustavo Krieger da equipe da Correio