A taxa de desemprego pouco se alterou em junho. Subiu de 10,2% para 10,4%, conforme divulgou ontem o IBGE. Mas a estagnação na taxa frustrou a expectativas dos analistas que já esperavam queda no índice no mês passado, época do ano que historicamente o mercado de trabalho se aquece. Em junho de 2005, a parcela de desempregados na força de trabalho em seis regiões metropolitanas do país fora de 9,4%. Na avaliação de analistas, mesmo com alta frente a 2005 e estabilidade inesperada de maio para junho, foi um bom resultado. A conclusão vem diante da alta no rendimento médio real de 0,5% em junho na comparação com maio. Assim, o salário médio do trabalhador no Rio de Janeiro, São Paulo, Recife, Porto Alegre, Salvador e Belo Horizonte chegou a R$ 1.033,50, o maior valor desde dezembro de 2002. Contra junho de 2005, a valorização foi de 6,7%, a segunda maior desde 2002. No ano, a alta média atingiu 4,4%:

— A expectativa de queda não se efetivou. A taxa continua estável (está nesse patamar desde março), mas o número de ocupados cresceu pela primeira vez este ano. O mercado não se aqueceu o suficiente para conseguir absorver a mão-de-obra que entrou — disse Cimar Azeredo, gerente da Pesquisa Mensal de Emprego.

Houve mais oferta de trabalhadores em junho: entraram 249 mil pessoas para competir por uma vaga, mas somente 170 mil conseguiram se ocupar. Assim, cresceu a taxa de desemprego, mesmo com aumento no número de pessoas trabalhando:

— A PEA (População Economicamente Ativa, o nome técnico para força de trabalho) subiu 2,7% de junho para cá. É um crescimento forte, muito acima do crescimento populacional, e a maior parte das pessoas foi absorvida. A tendência nos próximos meses é de a taxa cair — disse João Saboia, diretor do Instituto de Economia da UFRJ.

Com eleição, desemprego deve cair

Para o especialista em mercado de trabalho, a taxa de desemprego deve descer a um dígito nos próximos meses, antes de dezembro, quando o desemprego sempre cai com força. Mesma opinião tem o economista Marcelo de Ávila, consultor do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

— A produtividade na indústria cresceu. Os empresários estão demorando mais a contratar este ano. No segundo semestre, isso deve mudar, inclusive pelas eleições. Neste terceiro trimestre a taxa deve ficar em um dígito.

E o rendimento segue em alta. Mesmo subindo há cinco meses, os economistas não arriscam projeções para os próximos meses. Acreditam que a inflação estável e o reajuste de 13% do salário-mínimo explicam parte da subida de 6,7% da renda real do trabalhador, na comparação com junho de 2005 :

— Acredito que o emprego com carteira, que tem salário maior, também esteja por trás desse avanço na renda. Para os próximos meses, não teremos a colaboração do mínimo no salário. Vamos ver como o rendimento se comporta — disse Saboia.

Enquanto na comparação com junho de 2005, o número de trabalhadores com carteira cresce mais que os sem carteira, o mesmo não acontece quando se compara os números de junho para maio. Houve aumento no contingente de trabalhadores somente nas categorias de empregados sem carteira assinada e na de conta-própria.

Cássia Almeida / O Globo