Marcelino Fraga (PMDB-ES) junta-se a Coriolano Sales (PFL-BA), que havia deixado mandato na semana passada

O Conselho de Ética da Câmara abre hoje os processos de cassação contra 67 dos 69 deputados acusados pela CPI dos Sanguessugas de envolvimento no esquema de venda de ambulâncias superfaturadas a prefeituras. Vencido, à meia-noite de ontem, o prazo para os parlamentares renunciarem ao mandato para fugir do processo de cassação, apenas o deputado Marcelino Fraga (PMDB-ES)decidiu sair. Assim, com o deputado Coriolano Sales (PFL-BA), que já deixara o posto na semana passada, as renúncias se resumiram a dois parlamentares. A avaliação é de que os parlamentares apostam na absolvição.

Para ganhar tempo, o presidente do colegiado, deputado Ricardo Izar (PTB-SP), anunciou que dará prioridade para os casos dos parlamentares contra os quais há provas mais robustas. Por esse critério, a CPI considera dispor de elementos incontestáveis contra 15 deputados que teriam recebido pagamentos dos empresários acusados de chefiar o esquema.

Desmontado em maio pela Operação Sanguessuga da Polícia Federal, quando foram presos 47 acusados, o esquema das ambulâncias motivou a abertura de CPI na Câmara, que em relatório parcial divulgado há duas semanas apontou o envolvimento de 69 deputados e 3 senadores. Os parlamentares são acusados de, mediante propina, apresentar emendas ao Orçamento da União destinando recursos para municípios comprarem ambulâncias superfaturadas vendidas pela Planam, empresa que supostamente liderava o esquema. A máfia dos sanguessugas teria desviado R$ 110 milhões desde 2001.

Durante todo o dia, Izar foi consultado por acusados preocupados em avaliar se o melhor era enfrentar o processo ou renunciar ao mandato para fugir da cassação. Ele previa a renúncia de seis deputados, mas falhou. O presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PC do B-SP), até estendeu o prazo para a apresentação de renúncia até a meia-noite, pois é preciso de publicação no Diário da Câmara para ter validade.

O deputado Josué Bengtson (PTB-PA) foi um dos que decidiram desistir da renúncia. Ele, no entanto, afirmou que não vai mais se candidatar à reeleição. “Sou pastor evangélico e não me senti confortável em concorrer a uma eleição, na qual seria eleito, com processo no Conselho de Ética”, afirmou.

SENADO

O Conselho de Ética do Senado deve se reunir amanhã para dar início aos processos contra três senadores acusados de ligação com a máfia dos sanguessugas: Ney Suassuna (PMDB-PB), Serys Slhessarenko (PT-MT) e Magno Malta (PL-ES). O presidente do conselho, senador João Alberto (PMDB-MA), convidou o vice-presidente do colegiado, Demóstenes Torres (PFL-GO), para relatar o processo de Serys.

No caso dos dois outros senadores, Alberto procura por relatores aliados do governo. Sua primeira opção para o processo contra Suassuna é Sibá Machado (PT-AC), único membro da CPI dos Sanguessugas que se absteve na votação do parecer do relator Amir Lando (PMDB-RO).

Para parlamentares da oposição, a tática de João Alberto visa a assegurar o arquivamento dos processos contra Ney Suassuna (PMDB-PB) – agora chamado de “homem-bomba”, pelas ameaças de retaliar denunciando caciques do PMDB – e Magno Malta (PT-ES). Dessa forma, garantiria ainda a rejeição no conselho de uma eventual acusação contra Serys, mesmo se ela vier a ser denunciada por Demóstenes.

Denise Madueño, Rosa Costa

O Estado de S. Paulo