No aniversário da PF, coube ao ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, o papel de levar aos servidores do órgão um indigesto “presente”. Em discurso proferido na solenidade pelos 68 anos do órgão, Cardozo reiterou o apoio do Ministério da Justiça aos pleitos das categorias integrantes da PF. Afirmou que considera as reivindicações justas, mas alegou que o cenário de crise internacional não irá permitir que alguns deles sejam atendidos, sem dizer quais seriam.

Do alto da bancada improvisada, Cardozo estava literalmente cercado por servidores insatisfeitos com a situação da PF. À sua frente, administrativos – trajando camisas do SINPECPF – pedindo a reestruturação da carreira; mais à esquerda, delegados e peritos, feições graves, nenhum sorriso nos rostos; à direita do ministro, agentes, escrivães e papiloscopistas, munidos de faixas de protesto contra o descaso do Governo. A frustração era visível até mesmo entre os colegas do COT, que ali estavam a trabalho.

Não havia mesmo como receber bem aquelas palavras. Ao mesmo tempo em que exaltava a importância da PF para os vindouros eventos internacionais, o ministro fazia um mea culpa, tentando jogar a responsabilidade dos problemas da PF sobre a fragilizada economia europeia. “O Brasil atravessa um grande momento, mas precisamos ficar atentos. Devemos entender que a crise pede restrições orçamentárias”, afirmou.

Não, ministro. A crise da PF é mais embaixo. Fiquemos restritos ao PECPF: muito antes de a Grécia ir à bancarrota, os servidores administrativos já lutavam por reestruturação. As promessas que o governo deixou de cumprir também são muito anteriores aos problemas da Europa. O Brasil nunca arrecadou tanto com impostos. Não falta dinheiro – falta vontade!

Para piorar, basta lembrar que a reestruturação do PECPF não traz impacto orçamentário imediato, vez que não está atrelada a um reajuste salarial, tampouco à realização de novo concurso. Essas demandas seriam negociadas posteriormente.

E como exigir ainda mais comprometimento de servidores que já doam tudo o que podem a um órgão que tão pouco lhes oferece em contrapartida? Se a PF terá mesmo um papel preponderante nos eventos internacionais, o Governo precisa, desde já, agir de acordo com essa importância, valorizando os servidores. É possível calcular os riscos em deixar tanta responsabilidade sobre os ombros de um efetivo ínfimo e quase totalmente desmotivado?

Conversa com ministro – A presidente Leilane Ribeiro de Oliveira cobrou do Ministro apoio efetivo ao pleito do PECPF. Cardozo afirmou que antes seria preciso entrar em consenso com as demais categorias. “Não me diga uma coisa dessas. Já nos reunimos por três vezes e sempre deixamos claro que a reestruturação é o único tema de consenso na PF”, respondeu Leilane. A presidente também falou sobre as articulações que o diretor-geral tem feito para agilizar as negociações e esclareceu que a categoria abre mão de um concurso em curto prazo em prol da reestruturação. “Saber disso me deixa aliviado. Irá facilitar as coisas pra mim, porque a dificuldade é financeira”, respondeu o ministro.

O diretor-geral da PF, Leandro Daiello Coimbra, não pôde comparecer à solenidade, pois está em viagem internacional. O cerimonial não informou em qual país se encontra o DG, mas o SINPECPF torce para que ele esteja tentando solucionar a crise na Europa, a tal “culpada” pelas mazelas na PF.