Desde 2010, 28 servidores tiraram a própria vida na Polícia Federal (um administrativo e 27 policiais). O número assustador revela que o índice de suicídios no órgão é seis vezes superior à média brasileira (36,7 a cada 100 mil habitantes)[1]. Trata-se, portanto, de um problema institucional de saúde, que até hoje não recebeu uma resposta à altura por parte das autoridades.

Representados pelo SinpecPF, os profissionais de saúde que atuam na PF avaliam que o órgão precisa reforçar suas ações preventivas. Para a psiquiatra Joana Abrahão, o efetivo atual atuando na área de saúde é deficitário e políticas governamentais como o SIASS — que busca integrar equipes de saúde de diferentes órgãos, obrigando a PF a compartilhar seus profissionais — enfraquecem ainda mais o atendimento especializado que um órgão de segurança pública pede.

“Estamos falando de profissionais de segurança que andam armados e participam de operações de risco. Para prevenir que algo mais grave aconteça, é preciso estabelecer uma relação de confiança, algo que só é possível com um acompanhamento interno e contínuo”, explica a psiquiatra.

Outros profissionais de saúde ouvidos pelo sindicato corroboram a visão de Joana. Entre eles é amplamente majoritária a visão de que o órgão deveria apostar em um modelo interno de atendimento, no qual os profissionais de saúde poderiam acompanhar de perto a evolução dos pacientes. Entretanto, com o contingente atual, tal tarefa se mostra impossível, dado o pequeno número de profissionais de saúde biopsicossocial, área que cuida da prevenção e tratamento de distúrbios da mente.

Atualmente, a equipe biopsicossocial da PF conta com 13 psicólogos, 11 psiquiatras, 25 assistentes sociais e cinco enfermeiros. Eles são responsáveis pela saúde mental de 14 mil servidores em todo o Brasil. Como o contingente é baixo, até hoje o órgão não conseguiu colocar em prática o “Programa de Atendimento Biopsicossocial”, medida instituída pela PF em 2009 prevendo a alocação de equipes para o acompanhamento de saúde mental e psicossocial — compostas por um profissional de cada um dos cargos citados — em todos os estados do país.

Buscando reverter o quadro, a PF solicitou em 2014 a transformação de 36 cargos de nível superior atualmente vagos em cargos de psicólogo, com intenção de realizar um concurso público. A medida foi aprovada pela Câmara dos Deputados, mas está parada no Senado Federal (clique aqui para acessar), sob o pretexto de “contenção de gastos”. “Essa ‘economia’ tem saído caro para a sociedade, que perde profissionais dedicados do órgão mais respeitado do país”, sentencia o presidente do SinpecPF, Éder Fernando da Silva. “É absurdo fechar os olhos para a situação”, completa.

Outra proposta da PF engavetada pelo governo é a que cria o Subsistema Integrado de Atenção à Saúde do Servidor Público Federal das Áreas de Segurança Pública e Penitenciária Federal (SIASSP) no âmbito do Ministério da Justiça. A intenção por trás da proposta é que os órgãos de segurança do MJ (PF, PRF e DEPEN) se desvinculem do SIASS. Com isso, as instituições de segurança passariam a compartilhar seus profissionais apenas entre si, facilitando o acompanhamento clínico continuado e especializado.

Além da criação do SIASSP, a PF também solicita edição de Medida Provisória para a criação de 32 cargos de Médico, 38 cargos de Psicólogo, 25 cargos de Assistente Social, 28 cargos de Enfermeiro e 82 cargos de Instrutor de Educação Física, visando ao aperfeiçoamento de ações de saúde preventivas.

Desde 2013, o mês de setembro é associado ao combate ao suicídio. Como representante dos profissionais de saúde biopsicossocial da PF, o SinpecPF apoia a campanha Setembro Amarelo e aproveita a deixa para reforçar o apelo pelo reforço das equipes preventivas que atuam em nosso órgão de trabalho.

[1] http://noticias.r7.com/brasil/suicidio-entre-policiais-federais-e-seis-vezes-maior-do-que-a-media-brasileira-24032017